Editado em : Julho 2023
A Minha Estação de Rádio em 1974
Equipamentos de AM auto-construídos, coisas rudimentares que davam um prazer
enorme em construir e depois era só saborear os longos e aprasivéis QSO's entre
os diversos Radioamadores de todo o Mundo.
Foram tempos de Glória.!!!
Bons velhos tempos do AM.!!!
A Minha Estação de Rádio em 2009
Na Vida...tudo muda, a inclusão das novas tecnologias no Radioamadorismo deu este resultado que a foto mostra, nada parecido com o aspecto que o meu shack tinha em 1974...e o que mais vira por ai.!!!!
A Minha
Estação de Rádio em 2012
E
pronto….tal como eu previa, tudo se alterou desde a ultima vez, chegou a Internet, chegaram os Ecolinks, os
transceptores virtuais, já não
precisamos de ter antenas para falar com
outros Radioamadores de todo o Mundo, só precisamos de ter um Computador,
Internet e pronto….e agora, daqui para a frente…. como vai ser.?????
A Minha
Estação de Rádio em 2019
Para variar nestas coisas do Radioamadorismo.....mais umas mudanças, mais uns equipamentos novos, mais umas novas disposições dos equipamentos para nos facilitarem as operações durante as nossas actividades.
Enfim...tudo vai evoluindo.!!!!
Exemplar dos auscultadores recebidos como oferta
Manual de montagem do rádio KIT Nº. 16
Hoje quero partilhar convosco, a História de como vim para o Mundo do Radioamadorismo.!!!
Eram decorridos os Anos 60’s, tinha aproximadamente 15-16 anos, morava em Alverca do Ribatejo com os meus Pais e tudo aconteceu mais ....ou menos assim.
Numa tarde quente de Verão, lembrei-me de ligar o velho receptor musiqueiro (Hornyphon a válvulas, que tinha ligada uma antena de fio com cerca de 10 metros de comprimento, colocada na varanda) que havia lá em casa, servindo simultaneamente para ouvir musica, bem como para minha própria diversão.
Após ter “vasculhado” a banda de Onda Média de uma ponta á outra sem que alguma coisa me despertasse interesse, resolvi (e em boa hora o fiz…) carregar numa tecla que o rádio tinha que dizia “SW-2” o que permitiu que pudesse escutar frequências dos 4,8 MHz aos 8 MHz em AM (Amplitude modulada).
Nesta viagem, muito lenta do ponteiro, através do quadrante do receptor….deparei-me com uma comunicação (local do quadrante que estava sublinhado e dizia 40 metros) …coisa bastante esquisita para os meus ouvidos de “miúdo”…:
- “…olha lá…oh… Coca-Cola…diz ao Obra Zincada, que logo por volta das 8 da noite, vou aos 80 metros e falamos melhor…porque eu agora tenho de ir para o batente …tenho o meu pessoal a fazer a vindima…73’s …daqui Cê…Tê…Um…França Itália, que fica em QRT “.
Os meus olhos… iam saindo das orbitas…e a minha boca deve ter ficado tão aberta, que se deveria ver o estômago…no mínimo.!!!
“Hé…Lecas…Obra Zincada…Coca-Cola…80 metros…73’s… Batente… QRT… França Itália…Fazer a vindima”…
Mas isto não ficou por aqui…!!!
Qual não foi o meu espanto, quando comecei a ouvir também, ali no altifalante do receptor, um tal “Coca-Cola” que se chamava Augusto e morava em Lisboa….
Aquilo era muito movimento para a minha “pobre” cabeça, que estava apenas habituada a ouvir no rádio musiqueiro, os “Parodiantes de Lisboa” no Rádio Clube Português, o “Quando o Telefone Toca” na Rádio Graça e Rádio Clube Português, as “As Aventuras dos Cinco” na Emissora Nacional, o Futebol….e de repente…pimba…. estava gerada a confusão….
Mas que raio… seria aquilo afinal.???
Fiquei sem resposta, uma vez que os intervenientes não voltaram a aparecer….silencio absoluto..!!!
Isto fez com que ficasse mais confuso ainda, o que me levou a andar o resto da tarde a pensar no assunto sem dizer nada a ninguém lá em casa.
Entretanto…duas coisas me ficaram retidas na memória (…talvez pelo seu tamanho…hi..hi..hi..) 80 metros e 8 da noite.!!!
As 8 da noite…estava decifrado o enigma, restava-me então saber o que era aquela “medida” dos 80 metros.!!!
Sentei-me no sofá da sala e olhava prolongadamente para o velho receptor, que continuava ligado…talvez á espera que voltasse a ouvir mais alguma coisa que me desse alguma pista, mas….nada….silencio a mais silencio.
Bom….vou desligar o receptor, vou apanhar um pouco de ar, para ver se arrumo as ideias.
Mas….passado pouco tempo, já estava de volta a casa e em frente ao receptor, ligando-o logo de imediato na esperança de que pudesse escutar mais alguma pista para a resolução do enigma.
Continuava tudo mudo e silencioso…lembrei-me então de rodar muito devagarinho o botão de sintonia mais para cima e comecei a ouvir outras coisas muito esquisitas….pessoas a falarem com o mesmo tipo de conversas dos anteriores, mas desta vez em qualquer coisa que me parecia Espanhol.
Lá estavam os QRA’s…os 73’s…etc…etc…
Bem….isto está-se a compor, pensei eu.!!!
Continuei a minha viagem pelo quadrante do receptor, até que parei…ao escutar outra conversa esquisita, desta vez em Português.
“Chamada geral….chamada geral…chamada geral…Cê Tê Um Uruguai França chama em geral…Cê Tê Um Uruguai França chamou em geral e passa á escuta…cambio…cambio….
Algum silencio e…..”alô… Cê Tê Um Uruguai França… colega Vilar…daqui Cê Tê Um Zê Bê, aqui pela Figueira da Foz que responde á sua chamada geral e escuta…”
E dali para a frente, foi travada uma conversa entre dois indivíduos que lá iam passando a palavra um ao outro sempre utilizando aquelas coisas “meio parvas” dos QRA’s….QTH’s…QRX’s…um deles vejam lá que até disse, que estavam a transmitir com uma 807 no final, modulada por outra 807…. e a antena era uma “Maria Maluca” …..sinceramente…que coisa mais estúpida meu Deus.!!!
O outro para não se ficar a trás disse-lhe: “…Oh….Vilar…por aqui a minha antena é uma Li-Li com trepes…”
Já só me faltava mais esta…”que mal tinha eu feito a Deus para merecer tal coisa….pensei.???”
E aquilo durou….durou…até que: “Oh…Vasco Aguas…quero-lhe pedir autorização para ficar em QRT…pois tenho de ir ás Vitaminas, mas…logo estou nos 80 metros no QSO dos “Típicos…OK.??”
O dia estava a ser complicado demais para mim… eu não merecia tanta confusão….
Aquela coisa devia ser muito importante, pois o tal Vilar, pediu autorização para ficar em QRT.
Olha…pensei eu, “…mais um que vai logo aos 80 metros”.!!!
Eh…Pá…mas que raio, seria aquilo dos 80 metros.???
Chegada a hora do jantar, despachei-me o mais rápido que pude, para voltar a ligar o receptor na esperança de saber onde é que aquela malta toda se ia encontrar, nos tais 80 metros.
Coloquei-me então deitado no chão, mesmo de frente para o receptor que estava numa prateleira de um móvel estante onde entre outras coisas também tinha uma televisão a preto e branco da Philips, que naquele tempo era um luxo.
Mirei calmamente o quadrante do receptor todo… de uma ponta á outra.
Até que…qual não é o meu espanto, dou de caras com um local do quadrante que dizia: 80 MT
Espera lá, pensei eu…já estou no caminho certo, querem ver ???
Vi então, que para lá chegar, tinha de seleccionar outra tecla do rádio que dizia SW1.
As minhas mãos tremiam de nervos…tudo a postos….e lá vamos nós.!!!
Rodei o botão de sintonia muito devagar e….Bingo…” Óh…Coca-Cola…o Óh Zê… andou á tua procura, daqui Cê Tê um Dê Jóta…”
Finalmente lá estavam eles…aquilo estava a ser giro, só que as conversas não me diziam nada, pois achava tudo muito esquisito, principalmente a forma como eles falavam uns com os outros.
QSL CT1FI – José Vasques Osório
Tive de desligar tudo e fazer companhia á Família (que remédio…pois…).
Estava a ver a TV, mas a minha ideia estava fixa no quadrante do rádio que estava ali mesmo á minha frente…apagado.
Fui para a cama, mas…o meu pensamento ia sempre dar ao que me tinha acontecido durante todo aquele dia…até que, finalmente adormeci.
No dia seguinte logo de manhã lá estava eu outra vez…mas não estava a ouvir nada…silencio apenas.
Bom os “tipos” ainda devem de estar a dormir, pensei.
O tempo foi passando e nada…continuava o silencio.
Que raio…ontem estavam aqui tanta pessoal a falar agora não se ouve ninguém.???
Estava a começar mal o dia outra vez.!!!
Foi então que me ocorreu que no dia anterior tinha escutado aqueles indivíduos no tal sítio que dizia 40 MT .
Lá fui colocar o ponteiro no local indicado assim como mudar a tecla duma coisa que dizia BAND para SW2, mas….nada…não escutava ninguém, apenas outras pessoas mas numa língua que me era desconhecida.
Foi uma desilusão…não havia por ali nenhum daqueles “maduros” que andavam a falar em coisas meio esquisitas e que eu não percebia nada…
Por volta da hora de almoço…já a minha Mãe andava a desconfiar de tanta permanência minha ao pé da “telefonia” que me advertiu…”estraga-me a telefonia estraga…que o teu Pai depois fala contigo….não fazes outra coisa desde ontem que é andares a “sarranfonar” a telefonia toda para trás e para a frente…”.
Após o almoço…adivinhem lá vocês o que é que fui fazer.???
Exactamente….nem mais nem menos e para não variar, ligar a “telefonia” como lhe chamava a minha Mãe.
QSL do CT1LD o conhecido “Inspector” (da então DGS) Diogo Alves
Qual não foi o meu espanto quando começo a escutar logo o tal senhor Coca-Cola, depois o Obra Zincada, o França Itália e ainda um novo que ainda nunca tinha escutado que era o Santiago Turquia.
QSL do Colega CT1ST – Abílio Rodrigues
Este ultimo era giro….pois escutava-se volta não volta um relógio de carrilhão a tocar bem alto….Tom….tom…..tom…
Do outro lado diziam “Oh…Abilio o relógio está atrasado pá…tens de levar isso ao relejoeiro…”
Comecei então já a conhecer pela voz alguns dos intervenientes naquelas conversas.
E assim andei,durante algum tempo, ora nos 40 MT ora nos 80 MT, sem nunca perceber muito bem o que era aquilo tudo, até porque ás vezes ouvia os mais crescidos falarem lá em casa dos “gaijos” que eram da PIDE ou lá o que era…e que eram maus como oh “caraças”….pois se soubessem que as pessoas escutavam nas “telefonias” uma coisa que era a Rádio Moscovo eram “engaioladas” e nunca mais apareciam ….daí eu nunca ter falado em nada ao meu Pai, com medo de levar uma tareia.
Contei-lhe tudo…embora com medo, pois não fosse ele ser dos “macacos” da tal PIDE ou que raio era aquilo.
Foi então que o Sr. Manuel me disse, depois de escutar tudo atentamente, que as conversas que eu escutava na “telefonia” deviam de ser uns tipos meio malucos que tinham uns emissores e receptores lá em casa, que falavam uns com os outros por todo o Mundo….eram salvo erro os RADIOAMADORES….disse-me o Sr. Manuel.
Aquilo fez-me uma grande confusão…uns “tipos com rádios lá em casa e falavam uns para os outros.???? “
Lá fui de novo para casa, sempre a pensar naquilo que o Sr. Manuel me tinha dito.
Comecei então a imaginar, qual não seria o prazer e a sensação que deveria causar, ter um emissor em casa e poder falar com outros Amigos espalhados pelo Mundo inteiro.
E assim passei algum tempo, ouvindo as tais conversas entre aqueles tais denominados Radioamadores, até que....uma bela noite, chegou a oportunidade que eu fazia algum tempo desejava.
Estava o tal Obra Zincada a falar com o França Itália e perguntou-lhe a morada para lhe enviar um coisa esquisita que era um QSL de um Radioescuta....qualquer coisa SWL não sei das quantas.!!!
O França Itália lá lhe deu a direcção dele e eu aproveitei logo para a anotar cuidadosamente.
Achei que tinha chegado a oportunidade de poder esclarecer algumas duvidas que tinha relativamente aos tais Radioamadores e toda aquela confusão dos Obras Zincadas, Coca-Colas...etc...etc...
No dia seguinte...peguei numa folha de carta e escrevi ao tal Amador França Itália, que estava situado no Peso da Régua, no Norte de Portugal.
Contei-lhe resumidamente a minha história, que os escutava frequentemente, a confusão que pairava na minha cabeça sobre aqueles “palavrões” todos que eles diziam e rematava com a celebre frase:
- ”como é que eu posso vir a ser um Radioamador.???”
Coloquei um selo de dez tostões no envelope, coloquei-lhe a carta dentro, fechei-a e lá fui colocar a dita no marco de correio que distava da minha casa umas centenas de metros.
Passaram-se uns dias, uma semana e nada....resposta nem vê-la.
Entretanto, para minha satisfação, estava uma noite no meu posto de escuta nos tais 80MT e imaginem qual não foi o meu espanto, quando ouvi o Sr.Vasco Osório do Peso da Régua, que se dizia ser o Cê Tê Um França Itália, referir ao Cê Tê Um Coca-Cola, que tinha recebido uma carta de um rapazinho de Alverca do Ribatejo que costumava ouvir os QSO’s que eles tinham todos os dias ou nos 40 ou nos 80 Metros....
Fiquei para morrer de espanto, mas também de alegria, pois tinha tido a confirmação que a carta tinha chegado ao destino.
Fiquei a aguardar então a chegada da resposta, o que só veio a acontecer, passados uns bons 15 dias.
Quando finalmente recebi na caixa do correio a carta do CT1FI....as minhas mãos tremiam como varas verdes.
Tremulamente...abri o envelope e comecei a ler as noticias que o Sr.Vasco Osório me estava a dar, pois a minha curiosidade era mais que muita... como devem calcular.
O Sr.Vasco Osório, muito gentil e cordial explicou-me algumas coisas que lhe tinha perguntado, entre elas, disse-me que era produtor de Vinho do Porto, tinha as suas Terras de vinha na Região demarcada do Douro e vivia com a Familia no Peso da Régua fazia muito tempo.
Depois de muitas considerações, remeteu-me para um Colega Radioamador que era aqui de Lisboa, dizendo-me que ele me daria todas as informações de como deveria proceder para poder vir a ser Radioamador.
Nem eu sonhava... quem era o tal Radioamador que ele me estava a indicar, uma vez que me deu apenas a morada e disse-me para quando lá chegasse, perguntasse pelo Sr.Augusto.
Por ironia do destino...neste espaço de tempo os meus Pais e eu claro, mudámo-nos para uma nova casa nos Olivais Sul, ali perto do agora Olivais Shopping.
Andei uns quantos dias a pensar, se iria ou não ao tal encontro que me estavam a propor, pois eu era um “puto” e tinha receio que o tal Senhor Augusto que eu desconhecia, não aceitasse bem a minha presença e o meu pedido de ajuda.
Mas....como agora estava em Lisboa e o local de encontro proposto era também em Lisboa, mais propriamente no Chiado (Ourivesaria Aliança), enchi-me de coragem....e.....lá vou eu ....sem saber para o que ia.
Ao chegar ao local indicado, hesitei... se deveria de entrar ou não.
Fingi estar a olhar para dentro da montra, onde estavam expostos relógios, Jóias, Pulseiras, Fios de Ouro e diversas peças de Ouro e Prata, mas...a minha intenção era ver se descobria alguém com o tipo de ser o tal Sr.Augusto, mas...apenas via uma Senhora já de idade ao balcão.
Pensei...bom tem de ser...um...dois...três.....lá vou eu.!!!!
Abri a porta....dirigi-me á Senhora do balcão e disse: “...boa tarde minha Senhora...por acaso poderei falar com o Senhor Augusto...por favor.???”
A Senhora olhou para mim com ternura e disse-me: “...está sim menino..um momento por favor...vou chamá-lo...”
Passado um momento apareceu um Senhor baixinho, magro, calvo, de óculos, com pronúncia do Norte e muito simpático.
Estendeu-me a mão...e dizendo-me: “...deve de ser o Francisco José, não é.???... eu sou o Augusto Ferreira, Cê Tê Um Coca-Cola ou Corrente Continua...como queira.”
Fiquei colado ao chão, com a boca seca, sem poder articular uma única sílaba.
Aquele era então... o tal “Coca-Cola” em pessoa, que eu ouvia na minha “telefonia”.
Mas... pela vóz ...ele parecia um trovão a falar ...e ali ao pé de mim, tinha uma figura tão frágil e simpática, que eu nunca imaginaria...
E ali ficámos... frente a frente durante alguns minutos, tendo o Sr.Augusto Ferreira (Coca-Cola) esclarecido todas as minhas duvidas, aconselhando-me então a ir á Sede da REP-Rede dos Emissores Portugueses, na Rua D.Pedro V-Nº.7-4º. Andar em Lisboa, onde poderia associar-me e poder depois, pedir o indicativo de Radioescuta (SWL), podendo assim durante dois anos, preparar-me para o exame de Radioamador.
Assim aconteceu...passado dois anos propus-me ao exame da classe E, fiquei aprovado no mesmo e algum tempo depois, tive a Felicidade de poder contactar pessoalmente via rádio com todos aqueles Amigos que tinha escutado durante tanto tempo na minha “telefonia” os tais fulanos que: “ deviam de ser uns tipos meio malucos que tinham uns emissores e receptores lá em casa, que falavam uns com os outros por todo o Mundo…eram salvo erro os RADIOAMADORES….”
Este
episódio é uma Homenagem a um Colega, já
falecido faz alguns anos e que marcou muito, a minha Vida de Radioamador, já lá
vão uns bons 48 anos. Certamente poucos ou mesmo nenhum dos Colegas mais recentes deveriam ter ouvido
falar ou até mesmo escutado este indicativo, CT1KQ .!!!!
Era o Colega Jorge Costa e Silva, e morava Rua Sousa Viterbo, ali para os lados da Penha de França (Alto de S.João) em Lisboa
Na altura, tinha eu os meus 17 anos, já o Colega Jorge CT1KQ teria uns bons 60’entas e tantos anos de idade
Era uma figura carismática, bem disposto, bem falante, simpático, bonacheirão, gostava de brincar com as palavras, Amigo do Amigo e sempre pronto a ajudar algum Colega que como eu, estava a dar os primeiros passos no Radioamadorismo
Profissionalmente o Colega Jorge CT1KQ era Técnico de Televisão, ainda no tempo da TV a preto e branco
Trabalhava numa conceituada Empresa de Reparações de TV e HI-FI em Lisboa, sediada ali para a zona do Saldanha
Todos os dias fazia o percurso a pé, desde sua casa na Penha de França, até ao local onde trabalhava, coisa de que se vangloriava frequentemente
E era obra…para um Homem daquela idade.!!!
Naquele tempo, não estavam na moda os Ginásios, nem as pessoas tinham tempo ( $$$$$$$ ) para essas modernices.!!!
Trabalhava exclusivamente nas frequências altas VHF, mais própriamente nos 144 MHZ, ainda nos tempos do velho AM (Amplitude Modulada), com equipamentos totalmente por si construídos
Ele era um Icon daquela época Gloriosa da Banda dos 2 metros
Costumava dizer-se: “se não se escutasse o CT1KQ não se escutava mais ninguém…”
É que o Jorge CT1KQ, trabalhava já naquele tempo, com 2 válvulas QQE06/40 que debitavam cerca de 120 Watts de RF para a antena, com a particularidade de estar numa situação geográfica bastante favorável
Um dia, após um longo QSO nos 144.180 MHz (era a minha frequência de emissão na banda dos 2 metros ) com o Colega CT1KQ, fui convidado por ele para fazer uma visita ao seu QTH em Lisboa, convite que aceitei com imenso agrado uma vez que era “novato” e apenas conhecia dois “Shack’s” de Radioamadores que eram meus Amigos e vizinhos (na altura eu morava nos Olivais Sul ali perto do agora Olivais Shopping ), o CT1XI-Mariano Gonçalves, que morava perto de mim e o CT1ZX-Rui Penaguião / Carlos Ladeiras 2º.Operador de CT1ZX, agora CT1QP, que moravam em Moscavide
E num belo sábado de Verão, meti pés ao caminho, apanhei o Autocarro da Carris Nº. 19 dos Olivais para a Praça do Chile e lá fui eu a caminho de uma Grande Aventura, que nunca mais esquecerei
Com muito custo lá dei com a morada do CT1KQ, pois andei um pouco perdido pelas imediações, visto não ter tido o cuidado de perguntar a alguém onde se situava a dita Rua, mas finalmente lá dei com a morada certa
Subi ao 2º. Andar do antigo e imponente edifício, característico das construções daquela época, pois havia então muito espaço para construção e não se olhavam a custos por metro quadrado
Com um certo receio…respirei fundo…engoli em seco…e toquei á campainha.!!!
Ouvi lá ao longe passos…uma vóz feminina balbuciou: “…só um momento, por favor…”
A porta abriu-se…e uma Senhora de cabelos brancos com uma cara muito simpática e sorridente disse-me: “ …é o Sr. Gonçalves o CT1DL não é..??? …pode entrar…o meu Marido está lá dentro á sua espera, ele está a falar com outro Colega Radioamador, creio que é o Sr. Antunes CT1CO “
Lá fui entrando, guiado pela bondosa e simpática senhora, que ficou muito admirada por eu ser muito jovem, fazendo-lhe lembrar um filho dela, que tinha partido para o Brasil fazia alguns anos e que era muito parecido comigo, afirmou com uma “lagriminha” no canto do olho, enquanto me afagava os cabelos e me acariciava o rosto
Mais tarde, vim a saber da história, que o CT1KQ me contou
Cheguei então a uma marquise enorme, toda envidraçada, ampla, bem arejada e ensolarada
E lá estava ele…ao fundo, de pijama de flanela ao xadrês e de chinelos de quarto, junto a uma coisa enorme, que mais parecia um armário, e falar para um microfone que eu não via.!!!
Que coisa mais esquisita pensei eu.!!!
O Colega Jorge, passou então a palavra ao Colega CT1CO com quem estava a falar, despedindo-se dando-lhe conta da minha presença na sua casa, dizendo que iria ficar em QRT por algum tempo
Ali fiquei eu….em frente aquela figura simpática e bem disposta que dava pelo Nome de Jorge e era conhecido por CT1KQ
Feitas as apresentações, começamos a falar daquilo que me tinha levado ali, o Radioamadorismo
E então, começaram as explicações pormenorizadas de todo aquele amontoado de equipamentos que estavam á minha frente
“Olhe…Gonçalves, isto aqui é um Rack que eu construí para suportar todos os andares do meu emissor e receptor de VHF”
Aqui em cima, fica o amplificador de RF com duas QQE06/40, por baixo está o emissor e excitador que tem uma QQE03/20 na saída, mais abaixo está o modulador de áudio, aqui por baixo o receptor que é um receptor de onda curta de tripla conversão, adicionado a um conversor de 144MHz/10 MHz (…não confundir com 10 metros…) e finalmente por baixo a fonte de alimentação para todos os módulos.
O microfone está aqui escondido, porque ele é muito bisbilhoteiro e capta todos os ruídos que estão á sua volta, por isso fica ali atrás de castigo
Estava finalmente, desvendado o mistério do CT1KQ ter estado a falar, sem eu ter visto o microfone
Todas estas explicações, foram acompanhadas da retirada integral de todos os módulos que compunham todo o Rack, assim como de uma breve explicação do seu funcionamento
A minha alma estava parva.!!!
Curioso, era o facto de o Rack estar protegido em toda a sua altura e largura lateralmente e atrás, por rede de “galinheiro” de malha larga, que segundo o Colega Jorge, servia de blindagem á RF
Noutro local da marquise, estava uma bancada com um torno, algumas peças de ferramenta, como serrotes de ferro, limas, berbequim manual, brocas, punções, etc…etc
É que o Colega Jorge CT1KQ, espantem-se as nossas almas, fazia os transformadores de alimentação e de modulação, á mão.!!!
Eu disse… á mão.!!!
Vou explicar um pouco melhor.!!!
Ele comprava a chapa de ferro adequada ás circunstâncias, calculava as dimensões das chapas “E” e “I” e cortava uma a uma as chapas correspondentes, bem como as furacões para a fixação do transformador.
Imagem
das chapas E e I para os transformadores
Era um regalo para a vista e para a imaginação do Amador daqueles tempos
Naquele tempo, haviam verdadeiros artista manuais na construção de componentes dos quais não era fácil encontrar no mercado, obrigando-os assim a pôr a imaginação e a creactividade a toda a prova
Ao fundo uma zona dedicada á arrumação de peças de rádio, componentes, válvulas, condensadores, resistências, aparelhos de medida, cabos, etc
Como estava uma tarde convidativa de Sol, fomos até ao quintal, que ficava em frente á marquise
Curioso o facto de um 2º. Andar ter quintal, não é.???
Mas era verdade mesmo… o 2º.andar ficava construído num terreno, onde na sua direcção ficava um quintal cimentado e com uma passerele que dava para uma outra zona mais ampla, onde o Colega Jorge CT1KQ tinha aproveitado para montar e experimentar as suas antenas
Comecei a olhar e vi pela primeira vez, uma coisa meio esquisita que mais parecia duas estruturas de um papagaio de lançar ao vento, mas um em frente ao outro, suportado por um tubo de plástico grosso.!!!
- “ Cum escafandro….pensei eu “.
Oh…Colega Jorge, para que serve aquela coisa tão esquisita que tem ali.???
O CT1KQ…começou a rir á força toda pela minha admiração…
-”É a minha antena cubica de quadro para ver a TVE do canal 4 de Guadalcanal em Espanha.!!!”
Estávamos então no ano de 1970, não havia TV Cabo, Net Cabo, Cabovisão… era tudo em directo e a Preto e Branco.
Ao lado…um mastro com uns bons 6 metros de altura e lá no alto reparei noutra coisa que me despertou a atenção que era uma caixa toda em ferro, pintada de preto donde saiam alguns cabos que iam ligar a uma antena de 7 elementos tipo Yagi, feita com varões de alumínio e montada num tubo de plástico branco muito grosso.
Tive de satisfazer de novo a minha curiosidade e lancei a “bisca” ao Colega CT1KQ: - Oh Colega Jorge, que antena é aquela ali em cima e aquela caixa preta para que serve.???
Nova risada de satisfação….pelas questões que eu lhe ia colocando, naturais de um “puto” que estava a dar os primeiros passos no Radioamadorismo.!!!
-“Olhe oh Gonçalves, aquela caixa preta, é um rotor de construção caseira, que serve para rodar aquela antena de VHF que ali está e que utilizo para falar para o Norte de Portugal e Espanha”.
Lembrem-se que naquela época não havia Repetidores, nem FM, nem sequer equipamentos de Fábrica, era tudo feito á mão com os “cangalhos Box” parafraseando o nosso Querido CT1DT-Mário Portugal.
Todos os dias ao final da tarde e á noite após o jantar, lá estava o CT1KQ a chamar pelos seus correspondentes habituais daquela altura na banda dos 2 metros.
Eram eles entre outros, CT1PI - Ovar, CT1LG – Ovar, CT1AXY – Porto, CT1ZB – Figueira da Foz, CT1AS – Figueira da Foz, CT1BT – Évora, EA4AU - Badajoz, EA4CY – Madrid, entre outros que não me recordo, já lá vão tantos anos.!!!!
De notar que estes QSO eram feitos em AM (Amplitude Modulada ) e em directo, pois como atrás referi não se falava sequer em repetidores, nem em FM (Frequência Modulada) antenas verticais, etc…etc.
Na altura os emissores utilizavam XTAIS de 8 MHz, que depois eram triplicados por um andar amplificador para 24 MHz, depois triplicados para 72 MHz e finalmente dobrados para 144 MHz. Recordo-me ainda, que o meu XTAL era de 8.010 MHz que dava a frequência final de 144.180 MHz.
Era muito giro.!!!!
Então, passados alguns tempos, haviam já muitos Radioamadores que começaram a utilizar equipamentos de fábrica com VFO’s comuns a Emissão e Recepção que foi o meu caso.
Adquiri ao Colega CT1AN-Nascimento (falecido faz poucos meses), um TRIO TR2E, só com AM, que utilizava uma válvula QQE03/12 no andar final, sendo todo o resto do equipamento transistorizado.
Este equipamento tinha uma particularidade muito engraçada que era o facto de ter dois VFO separados, um para RX outro para TX.
Este equipamento foi mais tarde modificado por mim, com a ajuda do CT1BM-Cordeiro, para trabalhar também no modo de FM, o que veio a permitir-me em 1973 fazer aquilo que eu ainda hoje considero um feito histórico da minha Vida de Radioamador na Banda dos 2 metros.
Contacto directo em FM com a estação Italiana I0VKS da Cidade de Roma, com sinais de 59+30 dB e durante 5 minutos (não se ouvia então falar das Esporádicas E) e do qual guardo religiosamente o QSL.
Haviam muito poucas estações a trabalhar em Portugal na banda dos 2 metros, estando a maioria delas centralizadas em Lisboa e arredores, Porto e as outras bem distantes umas das outras, só sendo possível o contacto entre elas devido á Propagação que na altura estava no seu pico positivo.
Na zona de Lisboa lembro-me entre outras:
CT1KQ-Lisboa, CT1CO-Lisboa, , CT1FM-Lisboa, CT1IH-Lisboa, CT1ST-Lisboa, CT1NB-Lisboa, CT1UF-Lisboa, CT1OW-Lisboa, CT1PQ-Lisboa, CT1AP-Alcanhões, CT1DY-Glória Ribatejo, CT1DT-Benavente, CT1XI-Lisboa, CT1OB-Pirescouxe-Santa Iria CT1ZX/2º.Operador CT1QP-Moscavide, CT1ED-Moscavide, CT1AN-Paço D’Arcos, CT1RV-Lisboa, CT1KN-Lisboa, CT1HQ-Lisboa, , CT1IJ-Queluz, CT1ZK-Amadora, CT1WO-Lisboa, CT1RU-Lisboa, CT1VC-Lisboa, CT1MQ-Lisboa, CT1VS-Moscavide, etc…etc…etc.
Estações móveis existiam muito poucas, devido ao facto dos equipamentos serem bastante grandes e pouco adaptáveis aos carros de então, além de que consumiam bastante corrente á bateria das viaturas devido ao facto do consumo em AM ser bastante mais elevado do que em FM, CW, SSB.
Imagem
da Estação Móvel CT1ED/A-Vitor Carvalho - Moscavide
Vou-vos só dar nota, de algumas das estações móveis, que operavam aqui na zona de Lisboa e arredores que eu de momento me recordo:
CT1OB/A-Hilmar, CT1ZU/A-Melo, CT1ED/A-Vitor Carvalho, CT1FM/A-Sérgio Marques, CT1PQ/A-Caro Veiga, CT1KN/A-João Ramos, CT1AN/A-Nascimento, CT1ZB/A-Vasco Aguas, CT1BU/A-Mata Fome, CT1OW/A-Corte Real, CT1IJ/A-Frederico Pires, CT1DY/A-Grilo, CT1AP/A-Prof.Martinho, CT1BQ/A-Galinha, CT1BT/A-Romualdo Teles, etc…etc…etc.
O
Colega CT1KQ é o que está assinalado no circulo vermelho
Mas…voltemos ao Colega Jorge CT1KQ.
Fiquei ainda mais curioso de ver aquilo tudo a funcionar, o que levou o Colega Jorge com uma paciência de Santo, passados alguns minutos a colocar aquela “tralha” toda a girar para eu ver como tudo estava operativo. Fiquei aterrado….parvo…parecia um anormal, a olhar para aquilo tudo a mover-se lentamente de um lado para o outro. Mais parvo fiquei, quando passado algum tempo o colega Jorge me mostrou o que estava dentro da caixa preta que fazia de rotor. Era um motor de uma máquina de barbear da Philishave, com umas brutas rodas dentadas feitas em bronze, que tinham sido feitas á mão pelo CT1KQ e que serviam de desmultiplicação á força do pequeno motorzinho da máquina de barbear.
- “Aquilo…era areia de mais para a minha camioneta…”
Em seguida, falamos da antena de 7 elementos também construida pelo CT1KQ, que mais não era do que cópia de uma antena de marca Americana (Hy-Gain) que se Comercializavam em Portugal num Representante do Porto (creio que Pinto Leite, Ldª.-Representante da Heathkit), mas que custavam os olhos da cara.
O CT1KQ, falou-me em pormenor da sua construção, dos problemas que teve para colocar a antena a funcionar com a linha de 300 Ohms ( …lembrem-se que estávamos em 1970, a informação para os radioamadores era quase nula, em Português quase nada existia, apenas alguns esquemas que eram feitos á mão por alguns Amadores que iam copiando de Revistas Americanas, como QST, etc….nem sequer haviam Fotocopiadoras para se tirarem cópias dos esquemas ou scanners para retirar umas fotos dos pormenores de construção…eram tempos muito difíceis, a Internet não existia…), das dificuldades para aquisição do alumínio, da construção do Delta-Match, etc…etc…
Fomos então de novo para o “shack” do CT1KQ.
Reparei que o Colega Jorge CT1KQ utilizava como linha de transmissão fita de 300 Ohms phenólica, o que me fez alguma confusão, uma vez que eu nunca tinha visto aquilo a ser usado em emissão, só nas antenas de Televisão da altura.
Era deste tipo o cabo de transmissão que o CT1KQ utilizava em VHF
Depois duma explicação sumária feita pelo CT1KQ acerca da utilização dessa fita de 300 Ohms entendi o porquê.
Prendia-se ao facto, da antena que estava a utilizar ser de uma dada impedância (alta) e a impedância aproximada da fita ser do mesmo valor aproximado de 300 Ohms .
Foi então que os meus “olhinhos de Lince” depararam com outra coisa esquisita.!!!
Um pedaço de fita de 300 ohms com uma lâmpada de quadrante dos rádio musiqueiros (6,3V) em cada ponta e colocado por cima da fita de 300 ohms que ia para o emissor, mas…seguro com uma mola da roupa.
-“Não havia duvida, era demais…o meu coração não aguentava tanta “espantação”…eram só coisas esquisitas, coisas que eu nem sequer fazia ideia para que serviam.
Mais uma vez não resisti…tive de pedir ao CT1KQ que me explicasse para que era aquele “aranhiço” ali pendurado.???
Nova gargalhada…juntamente com um afagar terno nas costas.
“Olhe Gonçalves, isto é um medidor de estacionárias.!!!!”
Exemplo
do medidor de SWR usado pelo CT1KQ
Tive naquela altura vontade de fugir dali.!!!
E lá me foi explicando pacientemente, como aquele “aranhiço” funcionava na prática.
Digo-vos muito sinceramente que na altura não percebi nada…rigorosamente nada, daquilo que o Colega Jorge CT1KQ me estava a explicar, até porque os meus conhecimentos de electrónica nessa altura eram quase nulos, para não dizer nenhuns.
Mais tarde, vim a entender finalmente como aquela “coisa” funcionava.!!!
A explicação é muito simples: - o pedaço de fita phenólica tinha um comprimento de ¼ de onda, ou seja aproximadamente 49 cm, num extremo da fita paralela, soldava-se uma lâmpada de 6,3 Volts-100 mA entre cada fio do paralelo da fita, na outra ponta fazia-se exactamente uma mesma ligação com a outra lâmpada igual.
Agora para pôr aquilo a funcionar era assim: - colocava-se o emissor no ar (emissão), depois ia-se deslizando o tal “aranhiço” ao longo do comprimento da fita de 300 ohms, até uma das lâmpadas acender fortemente, até ao máximo de brilho.
Quando uma das lâmpadas estivesse acesa no máximo de brilho, a outra lâmpada do lado oposto do “aranhiço” teoricamente estaria quase apagada ou mesmo apagada, sinal de que não havia corrente de retorno pela linha abaixo, ou melhor dizendo não tinha estaccionárias, entendido.????
Depois era só segurar ali o “aranhiço” com uma ou duas molas da roupa e pronto, o nosso medidor de SWR estava funcionalmente a trabalhar a 100 %.
Tão simples, não era.???
Depois seguiu-se um QSO nos 144 MHz, á boa maneira do Colega Jorge CT1KQ fazendo uma chamada geral que era mais ou menos assim:
- “…alô chamada geral… chamada geral ….chamada geral…Cê Tê 1 Kapa Quê chama em geral banda de 2 metros (repetia esta chamada três vezes) … Cê Tê 1 Kapa Quê, chamou geral na banda de 2 metros e vai escutar a banda…..terminado.!!!
O CT1KQ começou então a rodar o quadrante do receptor e logo ouviu um sinal muito forte, mas uma vóz muito fraca e trémula dizendo: - “alô…Cê Tê 1 Kapa Quê… Cê Tê 1 Kapa Quê…daqui Cê Tê 1 Canadá Ontário, que responde á sua chamada geral, Cê Tê 1 Canadá Ontário responde á sua chamada geral, dá-lhe as boas tardes e vai escutar a banda, câmbio…câmbio
E pronto, iniciou-se ali mais um dos habituais QSO’s na banda dos 2 metros, entre dois Amadores, nas tardes de sábados e Domingos
As horas passavam-se e quando dei por mim, eram quase 19.30 horas, tinha de me apressar pois tinha de estar em casa antes das 20 horas para o jantar de Família, que na minha casa era sagrado
Fiz as despedidas, agradeci a tarde memorável que o Colega Jorge CT1KQ e Esposa me proporcionaram ( a dada altura da tarde, a ternurosa Esposa do CT1KQ, brindou-nos na marquise do shack do CT1KQ, com uma travessa cheia de bolinhos de manteiga feitos por ela, tortas, bolo de chocolate e um cházinho primoroso que nunca esquecerei…) e tive de partir, com a promessa de voltar outro dia, tal foi a insistência de ambos
O Colega Jorge CT1KQ passados uns anos reformou-se, dedicou-se a tempo inteiro ao Hobby do Radioamadorismo, ás experiências, aos ensaios de antenas, á renovação dos equipamentos, visto começarem a aparecer no mercado alguns equipamentos de 2 metros com uma coisa espectacular que era o VFO para emissão e recepção, (Oscilador de Frequência Variável) que permitia não ter de recorrer aos famosos Xtais de Quartzo tão difíceis de adquir
O CT1KQ tentou então, construir alguns VFO’s, recorrendo á tecnologia dos Mos-Fets e Fets, matéria esta que o CT1KQ não dominava muito bem, visto estar mais habituado ás válvulas. Deu-se inicio a uma fase muito complicada para ele, visto nunca ter conseguido construído um VFO estável, que permitisse escutar e ser escutado na mesma frequência
Tentou….tentou…e nada.!!!
Os tempos tinham mudado… começaram a aparecer jovens com outros conhecimentos de electrónica, com garra, com outras ideias, com mais informação, com outras capacidades de creatividade, que revolucionaram a banda dos 2 metros em Portugal
Surgiram os primeiros Grupos de Radioamadores, o Novice Gang VHF (CT1ZX,CT1QP,CT1ZK,CT1WO,etc.) o Gang da Borda D’Agua (CT1OB,CT1ZU, CT1ED, CT0320,CT1BM,CT1DL, etc.) e outros iam surgindo pelo Pais.
Apontamentos do Gang da Borda D’Agua
Cartão
QSL Nucleo Amadores Rádio PLESSEY
Dois Anos depois…o telefone tocou
Dois Anos depois…o telefone tocou.!!!
Do outro lado da linha, ouviu-se uma voz Familiar: “alô…Mãe… sou eu, estou no Norte do Brasil, com Vida e Saúde.!!!” daqui a dias… vou escrever-vos e contar-vos a história toda da minha Viagem…está tudo bem…dê beijinhos ao Pai.!!!
E desligou…aquilo foi uma Vida Nova que caiu dentro daquela casa.!!!
Meses mais tarde, (…ainda não havia naquele tempo o Correio Azul…, nem E-Mails ou MSN) eis que chega a prometida carta, com toda a história da Viagem, da sua estadia por Terras do Brasil e das suas intenções de Vida naquele Pais
Tinha escolhido para residir uma Cidade do Nordeste do Brasil, junto á Amazónia, tendo entretanto conhecido e casado com uma Indígena duma tribo Índia, tinham naquela altura já 3 ou 4 filhos e esperavam outro brevemente
Naquele tempo, os Índios não ouviam rádio nem viam televisão, e tinham muito tempo livre para estas coisas.!!!
O filho do CT1KQ, dedicou-se á construção de Barcos de Recreio, tinha um estaleiro seu onde em conjunto e sob a sua Direcção construía todo o tipo de Iates e Barcos de Recreio, chegando a construir algumas embarcações para Países como Inglaterra, Espanha, França, Holanda e Portugal
Era conhecido Internacionalmente pelo seu rigor de construção e qualidade das madeiras utilizadas.
Alguns modelos construídos pelo Filho do CT1KQ
Vivia bem…Feliz…mas gostava que os Pais o fossem visitar ao Brasil, coisa que nunca veio a acontecer, por motivos de Saúde por parte do próprio CT1KQ, bem como de sua Esposa.
Alô …Alô…CT1KQ….um dia vamo-nos juntar por aí, depois faremos muitos
QSO´s, mesmo que a Dona Propagação não nos deixe, portanto…Colega Jorge
continue a escutar a Banda.!!!
Capitulo IV
A coisa passou-se mais ou menos assim:
Tinha um ruído fortíssimo na recepção.
Atribui logo esse ruído, a alguma avaria no meu sistema de recepção ou até mesmo a qualquer anomalia do meu correspondente.
Aguardei para ver se o ruído desaparecia, mas…nada.
O ruído fortíssimo continuava, mais parecendo uma portadora propositadamente colocada na mesma frequência do CT1OB, o que vim a constatar que não.
A coisa era muito pior ainda…a interferência mantinha-se em toda a banda dos 2 metros, dos 144 até aos 146 MHz .
Era um sólido 5/9 + 60 dB….como se diz em gíria…ponteiro a fundo.!!!
Acabado o QSO, devido ao facto de não escutar ninguém em toda a banda dos 2 metros motivado pelo ruído intenso que tinha, desliguei todos os equipamentos e fui descansar.
No dia seguinte, como eu só entrava no trabalho ás 15 horas, durante a manhã fui ligar de novo a “tralha” toda dos 144 MHz para ver como estava a coisa.!!!
E ….para grande espanto meu, tudo estava a funcionar a 100%, inclusivé, escutei um QSO entre dois amadores aqui dos arredores de Lisboa em perfeitas condições, sem ruído, sem interferências, umas emissões limpinhas e ausentes de qualquer ruído.
Fiquei logo a pensar, que havia ali “bruxedo” .!!!
Então na noite anterior, o ruído era constante em toda a banda dos 2 metros, nem sequer me deixava escutar estações que estavam em linha de vista com a minha, e agora no dia a seguir, estava tudo bem, sem ruído, sem interferências,…isto era de desconfiar.!!!
Á boa maneira do “Zé Purtuga”…comecei logo a imaginar, avaria do conversor de 144 MHz, avaria do receptor, avaria da antena, avaria da fonte de alimentação, cabo coaxial defeituoso, só me faltou desconfiar do “autoclismo” lá de casa….o resto, tudo me veio á ideia.
Chegada a hora de ir para o trabalho, a primeira coisa que fiz quando lá cheguei, foi ir tem com o CT1OB – Hilmar e falámos dos acontecimentos da noite anterior.
Trocámos impressões, mas não chegámos a conclusão nenhuma, visto o sistema estar a funcionar outra vez a 100%, o que nos levou a combinar para a noite daquele dia, uma nova experiência para ver os resultados.
Andei todo o resto do dia a pensar, no que iria acontecer.!!!
Logo após, ter regressado a casa, o meu propósito foi logo ligar o sistema todo para ver se aquilo tudo estava a funcionar.
A banda estava limpa….sem ruídos, sem interferências, até escutei o CT1FM-Sérgio Marques (já falecido) aqui de Lisboa em QSO com outro Amador que não me recordo o seu Indicativo.
Parecia que o “bruxedo” tinha acabado.!!!
Bem…agora faltava só chamar o CT1OB conforme tínhamos combinado.
Então…lá foi feita a chamada pelo Hilmar o que de imediato me foi contestada, dando inicio a mais um QSO.
Tudo parecia estar na verdade a correr com normalidade, o sinal do CT1OB era fortíssimo, a modulação belíssima, enfim….a coisa não havia duvidas algumas, estava a funcionar com normalidade.
Entretanto um outro Amador tinha-se juntado a nós no QSO, era o CT1ZU-Melo também meu antigo Colega de Trabalho, que estava a emitir desde a Praça do Chile em Lisboa.
O sinal era bastante forte também, uma emissão explêndida, sem nada a assinalar.
Até que…!!! O inesperado aconteceu….estava a escutar o CT1ZU e…Tchiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii Tchiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii….lá estava ele outra vez….estava tudo estragado de novo….Para os meus botões disse raios e coriscos, barafustei, gritei, deu-me vontade de esmurrar o receptor e o conversor de 144 MHz, mas….tive de me acalmar e tentar resolver aquele fenómeno que se estava a passar comigo.
Fiquei novamente, sem qualquer possibilidade de escutar alguma emissão em toda a banda dos 2 metros, o ruído estendia-se por toda a banda, forte, intenso e sem qualquer indicio de tentar desaparecer.
“Estou entregue aos bichos”, pensei eu.!!!
Mesmo sabendo que não iria escutar ninguém, e como a frequência do CT1ZU era muito pertinho da minha, tentei sair para o Ar e informá-los que estava com o mesmo problema e que não podia escutá-los devido aquela interferência que teimava em não desaparecer aquela hora.
Já não voltei a escutar mais ninguém durante toda a noite.
Entretanto, como eu me tinha ausentado e deixado de emitir, o CT1OB telefonou-me a perguntar o que se estava a passar, dando-lhe eu nota do acontecimento, o que o deixou altamente admirado.
A coisa, não havia duvidas, era muito esquisita, mas estava mesmo a acontecer.
Voltei a desligar tudo e novamente como na noite anterior fui-me deitar, sem que antes voltasse a tentar arranjar uma explicação para os acontecimentos, o que não consegui.
Dei voltas e mais voltas até adormecer, sempre a pensar naquela coisa esquisita que se estava a passar.
Novo dia….logo que acordei, lá fui de novo ligar o equipamento de 144 MHz e lá estava….tudo limpinho…sem ruído, sem interferência alguma, um sopro levezinho quase nulo, característico do AM, tudo estava normal.
Bem…tenho de ir á “bruxa”…isto é demais…umas vezes isto funciona, outras não …mas como é que eu devia de resolver isto, pensei.????
Quando cheguei ao trabalho, voltei de novo a trocar impressões com o CT1OB e também com CT1ZU que na noite anterior se tinha juntado a nós, para apreciar aquele fenómeno que se andava a passar.
As conclusões a que chegámos, não foram nenhumas…restava-nos deixar correr o tempo e ver se aquilo se resolveria por si próprio.!!!
Regressei a casa após o trabalho, mas muito sinceramente…não me apeteceu nada ligar os Rádios, com receio que de novo, voltasse a acontecer o mesmo problema com as interferências, o que me levou a fazer uma pausa e juntar-me á Família na sala, a ver Televisão, até porque o meu “Benfica” jogava mais uma Gloriosa jornada da Taça dos Campeões Europeus (estávamos na Época Áurea deste Clube, do Eusébio, do José Augusto, Torres, Coluna…etc…por volta dos anos 72/73).
Até que…”um milagre aconteceu….”.
Tocaram á porta…a minha Mãe deslocou-se até lá para a abrir, ouvi a minha Mãe a falar com alguém, seguido de um pedido…”Zé...chega aqui á porta, que está aqui um Senhor que quer falar contigo.!!!”
Pronto…já não posso ver a bola descansado, pensei.!!!
Desloquei-me até lá, deparando-me com um Senhor de meia idade, muito sorridente e simpático, que me estendeu a mão e se apresentou: - “olá….eu chamo-me Rui Sá Nogueira ,sou seu colega Radioamador e seu vizinho aqui do prédio ao lado, moro no 7º.andar e venho aqui pedir-lhe mil desculpas das interferências que lhe tenho estado a causar na banda dos 2 metros á uns dias a esta parte.!!!”
De imediato, mandei entrar o Sr.Rui que fazia questão em não incomodar áquelas horas, tanto mais que reparou que estávamos a ver o futebol na Televisão (só havia a RTP1 e RTP 2 na altura), coisa que ele não era grande adepto segundo me confessou.
Fiz questão que entrasse, o que o Sr. Rui acabou por ceder ao meu convite, deslocámo-nos até ao local onde tinha a minha modesta estação, que apenas era composta por um receptor musiqueiro Hornyphon, um conversor home made CT1KQ 144/10 MHz e um emissor de VHF com 1 válvula QQE03/20 no andar final, isto tudo em AM (Amplitude Modulada) construído pelo CT1OB-Hilmar Magro, o microfone era uma pastilha de Cristal da marca Mérula -Made in Italy, como antena tinha uma Yagi de 5 elementos de construção caseira, home made CT1DL.
Como podem ver, “…era uma Estação e peras….”
Então com mais calma, o meu vizinho Rui, apresentou-se como Radioamador, informando-me que o seu indicativo era CT1VC, o que me deixou bastante satisfeito de saber, que tinha ali ao meu lado um vizinho Radioamador que podia pedir ajuda, quando estivesse em dificuldade.
O Colega Rui CT1VC, trabalhava quase que exclusivamente em onda curta (HF), daí uma noite o ter escutado no meu velho receptor musiqueiro, em QSO com um colega do Brasil da zona de S.Paulo, na banda dos 80 metros em AM, escutando eu o colega do Brasil fortíssimo com um sinal que não podia medir, uma vez que o S-Meter do meu musiqueiro, era uma válvula olho mágico EM-80 (…alguém se lembra disto.???).
Naquela altura, não fazia a mínima ideia que o CT1VC, morava paredes meias comigo.
Já tinha visto a antena dipolo para 80-40 metros montada na traseira do prédio, que na realidade vim a constatar que o cabo de baixada ia mesmo direita á janela do Shack do Colega Rui.
Foi então que o Colega CT1VC, começou por contar a história daquele mistério que se andava a passar fazia uns dias, que me impossibilitava de a partir de uma determinada hora, manter QSO com qualquer colega na banda dos 2 metros.
Cartão de QSL da Época – 1972 Verso –
CT1VC
O CT1VC tinha acabado de construir, fazia uns dias atrás, um receptor que tinha sido publicado pelo CT1DT-Mário Portugal, num Boletim da REP-Rede dos Emissores Portugueses (tenho ainda em meu poder o Boletim da REP dessa altura, visto mais tarde eu também ter construído um receptor idêntico que me deu grande prazer construir), era um receptor regenerativo que trabalhava com uma válvula 6U8 como osciladora e tinha um amplificador de áudio composto com uma válvula 6AQ5.
E a coisa trabalhava muitíssimo bem em toda a banda dos 2 metros, incluindo a banda da aviação (naquele tempo ainda não andavam os Radioamadores a desviar aviões do Aeroporto de Lisboa através da Rádio…hi…hi…hi…), mas… tinha um grande problema: - é que estes circuitos receptores regenerativos, devido á concepção do próprio circuito, também emitem simultaneamente um sinal que embora fraco, pode causar algumas interferências nas redondezas.
Vieram de seguida os pedidos de desculpas apresentados pelo CT1VC, “que não aceitei”, uma vez que, não havia qualquer intenção dele em me estar a prejudicar, nem sequer se ter apercebido do facto, não fosse eu referir que tinha a dita interferência, aos colegas com quem estava em QSO.
Logo consequentemente, nada havia a desculpar, pois estávamos todos inocentes.!!!!
O CT1VC, de seguida convidou-me e fez questão, que eu me deslocasse a sua casa, para poder apreciar o causador daquele “embróglio” todo, bem como ver mais uma estação de Amador a funcionar.
Claro que….aceitei de bom agrado, e lá fomos até ao Shack do CT1VC, que era ali mesmo no prédio ao lado.
Fui recebido pela sua Família, nomeadamente por sua Esposa, que nos acompanhou até ao local da sala, onde estava toda a estação maravilhosa do meu Vizinho Rui Sá Nogueira.
Era um quarto amplo e espaçoso, aliás igual a uma das divisões de minha casa, uma vez que as elas eram iguais.
Fiquei deslumbrado…espantado até, com a disposição e organização daquele Shack. !!!!
Tudo arrumadinho, alinhado, os equipamentos estavam esteticamente bem distribuídos, uma Maravilha.!!!
Mas os meus olhos pararam logo, num grande e vistoso Rack, que se situava junto á janela, onde estavam montados alguns módulos, que o Colega Rui Sá Nogueira me explicaria ser um emissor de onda curta dos 10 aos 80 metros em Amplitude Modulada.
Tinha sido totalmente construido por ele, feito com uma perfeição incrível, mais parecendo um equipamento de Broadcasting de Fábrica.
Aliás... vim a saber depois, que tinha sido aquele equipamento que eu tinha escutado algum tempo atrás, nos 80 metros com o Radioamador Brasileiro.
Era uma coisa digna de se ver, alias poderão os Colegas apreciar o mesmo, numa foto que acima vos mostro e que me foi oferecida na altura pelo Colega CT1VC.
O equipamento em questão é aquele que está nas costas do Colega Rui.
Mas a demonstração começou em primeiro lugar, com a apresentação do receptor Regenerativo de VHF, que o CT1VC tinha construído á uns dias atrás e que tinha sido o causador, de nós estarmos ali naquela altura em QSO de metro.
Lá veio então o “dito cujo” montado num magnifico chassis de alumínio, bem reluzente, onde estavam cuidadosamente dispostos todos os componentes, das valvulas 6U8 e 6AQ5, do dial de alumínio improvisado para servir de desmultiplicador do quadrante, tudo...tudo cuidadosamente bem feito e com uma perfeição impecável.
Aliás...deixem-me dizer-vos que a profissão do Colega Rui Sá Nogueira, era Desenhador Industrial, daí todo o rigor e perfeição das sua montagens.
O CT1VC lá ligou então o regenerativo de VHF e uma forte sopradeira invadiu os nossos ouvidos, tendo sido logo ajustado o potenciómetro da regeneração, de modo a que o sopro fosse mais suave e macio para os nossos ouvidos, aquela hora da noite.
Feita uma breve busca ao quadrante lá escutámos uma estação na banda dos 2 metros...era o CT1ZX de Moscavide, em QSO com o CT1XI ali dos Olivais Sul, bem perto de nós.
Uma recepção explêndida e clara, dado que ambas as estações estavam perto de nós.
Rodado o dial um pouco mais para baixo, lá estava o operador da Torre de Controlo do Aeroporto de Lisboa, a autorizar que o VARIG XXX, descolasse da pista 36, devendo virar para o corredor da Arruda...etc...etc...
O CT1VC estava maravilhado e eu também, com aquilo que estávamos a ouvir e da forma limpa e suave com que se escutávamos todas as transmissões.
Entusiasmei-me logo, para construir também uma “coisa daquelas” para ter lá no meu modesto shack.
O CT1VC teve então oportunidade de me mostrar um receptor de VHF que tinha feito parte do espólio de um Navio da Marinha Portuguesa, adquirindo-o num “Ervanário” (nome dado aos Ferro-Velhos que vendem sucatas de equipamentos adquiridos aos diversos ramos das Forças Armadas e que depois seguem para desmantelamento e consequente aproveitamento para as Fundições), receptor este que era de uma marca que não me ocorre o nome, sendo a sua referência um BC-Qualquer coisa.!!!!!
Era uma coisa imponente, parecia uma catedral, creio que cobria salvo erro, as bandas dos 70 MHz aos 470 MHz, já com o modo de FM.
Coisa pequena….deveria ter uns 60 cm de altura, por 50 cm de largo e de fundo deveria rondar os 70 cm., devendo pesar á volta dos 30 Kilos.!!!
Receptor de HF MURPHY B-40
Um autentico portátil…daquela época.
Tinha um comutador enorme… para mudar de banda, e um quadrante amovível com a respectiva escala da banda seleccionada.
A recepção era belíssima em FM, pois cobria também a Banda de FM Comercial da altura (apenas a Emissora Nacional e o Rádio Clube Português tinham emissões em FM Stéreo) permitindo-nos escutar FM embora em Mono, mas com uma qualidade explêndida.
O receptor, até tinha S-Meter, o que para aquela altura era inovador, atendendo a que era um rádio militar.
Tivemos tempo ainda de trocar mais umas impressões, sobre antenas de onda curta e de Yagis de 2 metros, cabos coaxiais, trap’s para antenas, pois eu tinha acabado de montar, uma antena W3DZZ que usava esse tipo de trap’s e que funcionava muitíssimo bem em todas as bandas de HF.
Sobre esta antena W3DZZ não resisto em compartilhar convosco, um episódio que aconteceu comigo, pouco tempo depois de ter montado a antena no telhado do prédio onde morava.
Estávamos em pleno Inverno, tarde chuvoso e ventosa de sábado, deitei mãos á obra e fui esticar o fio da antena, com os dois trap’s de construção “CT1LI” também conhecido como a antena LI-LI com trap’s.
Começou a chover torrencialmente, levantou-se um vento forte que parecia uma tempestade, assim tentei despachar a coisa o mais rápido possível, para evitar de me molhar até aos ossos.
Atei atabalhoadamente as pontas do dipolo com os trap’s, enrosquei a ficha PL ao isolador central, deixei cair o cabo coaxial na direcção da janela do quarto onde tinha montada a estação de rádio, retirando-me em seguida escada abaixo até casa, sem que deixasse de sentir a agua a ensopar-me a roupa até ao tutano dos ossos.
Parecia um pintainho.!!!!
Chegado a casa, fui logo experimentar a antena, tendo os resultados sido fabulosos.
Nunca mais me ocorreu, que devido á chuva e ao vento forte, não tinha atado a antena em condições de segurança, daí que……no dia seguinte (Domingo) logo pela manhã, bateram-me á porta e entregaram-me um trap da antena, assim como uma conta de umas dezenas de escudos, para pagamento de um vidro da janela do vizinho do 2º.andar do prédio em frente, pois durante a noite anterior, o extremo do dipolo desatou-se e o trap da minha antena, entrou pela janela do vizinho, sem que para isso tivesse pedido licença a alguém, indo assentar calmamente em cima da cama do casal, que dormia profundamente.!!!
Radioamador é mesmo assim….as montagens são sempre provisórias, mas se funcionam, passam de provisórias a definitivas.!!!
Concordam comigo, ou não.???
O Colega Rui foi-me presenteando, com explicações e demonstrações dos equipamentos que tinha ali na sua belíssima estação e que tinham sido, por ele construídos.
Entre eles estava um receptor de onda curta, que cobria dos 450 KHz aos 30 MHz em AM-CW e SSB, com S-Meter, um quadrante longitudinal enorme, com uma desmultiplicação poderosa, que me despertou muito a atenção, especialmente a belíssima recepção que o mesmo tinha, pois o CT1VC tinha-o ligado para eu apreciar a qualidade de recepção em Banda Lateral (USB-LSB), coisa que eu não tinha na minha modesta estação.
Estava embasbacado....os meus olhinhos quase que saltavam das orbitas, tal não era o meu espanto de estar a escutar emissões de SSB em tão boas condições.
Só vos quero lembrar que nessa altura, eu estava muito operativo como Radioescuta (era o CT0334) que recebia as emissões em SSB, com um oscilador construido por mim que trabalhava numa frequência que nunca cheguei a descobrir qual era, e que fazia uns batimentos fabulosos nas bandas de Amadores, permitindo-me assim escutar o SSB, embora com uma grande dificuldade em sintonizar as estações, mas que lá ia dando para perceber os indicativos e poder enviar o meu cartãozito de QSL via REP-Rede dos Emissores Portugueses.
Tempos muito difíceis...acreditem.!!!
Bom...eu devia ter feito um ar de espanto tão grande, que o Colega Rui CT1VC me disse assim: - “Oh...Gonçalves, olhe uma coisa, o Gonçalves vai levar este receptor para sua casa emprestado, pois eu nem sequer me estou a servir dele, uma vez que utilizo aquele ali em conjunto com o emissor de Onda curta, logo pode levá-lo por uma temporada e depois, quando voçê arranjar outro melhor, logo me trás de volta este….está bem ou não..???”
Apeteceu-me dizer sim...apeteceu-me dizer não...apeteceu-me dizer obrigado...apeteceu-me dizer não sei o quê...mas acabei por agradecer ao Colega Rui, mas não queria levar o receptor pois podia estragá-lo e depois não tinha forma de o retribuir dos danos causados.
Mas....após tanta insistência e pressão do CT1VC, acabei por aceitar a oferta de levar o receptor do CT1VC para minha casa por uma temporada.
Eu nem queria acreditar naquilo....estava a ser bom demais, parecia um sonho....mas era verdade mesmo, pois dali a algum tempo tive de carregar o receptor até a minha casa, verificando que aquilo “não era um sonho, mas sim um pesadelo”
É que sempre eram, uns bons 10 a 15 kilos...era obra.!!!!
As horas, tinham-se passado a correr, a conversa era como as cerejas, quanto mais se comiam, mais vontade tinhamos de comer, mas…. havia de terminar por ali, pois dali a algumas horas, era dia de trabalho, em especial para o Colega Rui Sá Nogueira, visto o meu horário de entrada ser ás 15 horas ás 22 horas, logo estava mais á vontade.
Contudo, tivemos de fazer as despedidas, com a promessa de voltarmos a encontrar-nos mais vezes e fazer-mos mais QSO’s de metro, pois ambos gostávamos de uma coisa comum: - “ a conversa…as construções e o Radioamadorismo….”.
E lá vim eu escada abaixo, com um receptor debaixo do braço, mas acima de tudo com uma certeza, tinha ganho a noite, tinha iniciado uma grande amizade com um GRANDE AMIGO.
O Colega Rui Sá Nogueira, faleceu este ano de 2009,
Paz á sua grande Alma de Amigo e Radioamador.!!!!
Capitulo V
Certamente para quem é do tempo do AM em VHF e morava na zona de Lisboa, este Indicativo não lhes deverá ser totalmente alheio, CT1HQ-Eduardo José da Silva, Bairro de Campolide, em Lisboa.
Quero assim, transmitir-vos o modo como conheci este Grande Amigo e Colega ( Já falecido ) que foi o Cê Tê Um Hotel Quebeque.
Estávamos no Ano de 1971…e eu andava em “pulgas” para que chegasse o dia…nunca mais passavam as semanas, estas pareciam anos, até que finalmente, estava na altura…era dia de me deslocar até Barcarena, mais propriamente, ao Centro de Escuta da então DSR -Direcção dos Serviços Radioeléctricos dos CTT, bem lá no alto da Serra de Barcarena, tendo como acesso uma estrada militar que era uma desgraça.
Morava então nessa altura nos Olivais Sul em Lisboa, onde vivia com meus Pais, estava quase a fazer 20 anos e o tempo de tropa estava perto.
Desloquei-me de transportes públicos até Barcarena, como era normal naquela época.
Foi uma aventura….autocarro até Cais do Sodré, comboio até Paço de Arcos e camioneta da Empresa Eduardo Jorge até á entrada da tal estrada militar, depois….bom….depois… a pé… até lá acima, ao altinho da Serra onde estavam os edifícios da DSR-CTT.
Tinha de estar lá por volta das 14 horas, eram cerca de 14:30 quando dei entrada na sala onde iriam decorrer os testes de aprovação para a classe “E” que me daria acesso durante 2 anos a poder operar em todas as bandas de amador com apenas 50 watts de potencia e após esse período de tempo teria de me propor a fazer exame para a classe “C” tendo então possibilidade de utilizar 750 watts em todas as bandas de amador sem limites de faixas.
Caso não me habilitasse a fazer exame para a classe “C”, não teria outro remédio que não fosse, só poder operar nas faixas acima dos 144 MHz., o que veio a acontecer devido ao tempo em que estive no serviço militar.
Mas….voltemos a Barcarena.
Entrei na sala que estava repleta de candidatos a Amador, ( naquele tempo… havia apenas exame, duas vezes por Ano) estavam só dois indivíduos a conversar um com o outro, ( tendo mais tarde vindo a saber que se tratavam do representante da DSR-CTT e do representante da REP-Rede dos Emissores Portugueses, Colega CT1FM-Sérgio Marques) todos os outros estavam nos seus locais sentados a fazer os testes totalmente concentrados.
Tomei calmamente o meu lugar e iniciei o meu Exame.
Estava já a terminar o meu teste, deveriam ser por volta das 15:30 hrs, quando chega um OM totalmente espavorido, baralhado, a transpirar e cansado que nem um atleta da maratona.
Depois de ter feito a justificação do seu atraso aos representantes da REP e DSR, veio mais calmamente sentar-se ao meu lado.
Olhou para mim…viu-me com cara de “betinho” e disse muito baixinho….”isto… é muito difícil.????....é que eu não percebo um boi desta porcaria….dá-me uma ajuda.????”
Eis que se ouviu logo de imediato uma voz estridente do Sr. Diogo da DSR (Pai do Falecido colega CT1EJ)….:-“meus senhores quero pouca troca de palavras entre os candidatos, pois poderão abandonar a sala sem acabar o teste…”
O representante da REP – CT1FM Sérgio Marques…riu-se e aconselhou calma.
Ouvi então… mais baixinho ainda… o colega que tinha chegado atrasado balbuciar ..”grande sacrista….”.
Fiquei a aguardar calmamente, que me pedissem os testes que já todos tinha terminado e saímos para o exterior da Sala.
Estávamos todos concentrados no Hall de entrada do edifício, aguardando directrizes dos responsáveis da DSR-CTT.
Passado alguns minutos, foi-nos informado que iríamos receber em nossas casas, a informação se tínhamos ou não sido apurados no exame.
Comecei a preparar-me de novo, para me fazer á estrada e regressar até casa, quando ouvi uma voz que já me era familiar dizer: “ você tem transporte próprio….ou vai de transportes públicos? …”…ao que respondi que ia de transportes públicos até aos Olivais Sul em Lisboa.
O meu companheiro de Teste, ofereceu-se então para me dar boleia até Lisboa, visto ter vindo de Táxi até ali e teria que ir de novo de Táxi para Lisboa.
Agradecido, aceitei a boleia.
Enquanto esperávamos a chegada do táxi, tivemos oportunidade de fazermos as apresentações mais condignamente, tendo ficado a saber que o meu companheiro de Teste se chamava Eduardo Silva, trabalhava nos Estúdios do Rádio Clube Português, na Rua Sampaio Pina em Lisboa.
Fiquei logo todo entusiasmado com aquela noticia.
Durante a viagem até Lisboa, o Eduardo Silva convidou-me para ir-mos juntos até ao Campo das Cebolas em Lisboa, pois tinha ouvido falar a um colega de trabalho que também era Radioamador o CT1PN-Nascimento, que havia lá uma Empresa que vendia equipamentos de Radioamador que era a ONDEX e que representava a Marca TRIO, que dizia ser muito boa.
Manifestei-lhe a minha vontade de também o acompanhar até lá mas….tinha o problema de poder chegar tarde a casa de meus Pais pois eles iriam ficar preocupados com a minha ausência.
O Amigo Eduardo resolveu de imediato o problema….você tem telefone em casa de seus Pais.???
Sim…tenho.!!!
Então isso resolve-se já…quer ver.!!!
Paramos á porta do Rádio Clube Português na Rua Sampaio Pina, o Eduardo pediu para o motorista do táxi aguardar um pouco por nós e deslocamo-nos ao Estúdio e na recepção telefonámos para minha casa, tendo o Eduardo Silva falado com o meu Pai, pedindo-lhe autorização para que eu chegasse um pouco mais tarde a casa, porque iríamos inclusive jantar juntos e comprometeu-se levar-me a casa após o jantar, para evitar preocupações por parte dos meus Pais.
O meu Pai…com muito custo… lá cedeu ao pedido do Eduardo Silva, o que me levou a saltar de contente.!!!!
Lá fomos nós… até á ONDEX no Campo das Cebolas em Lisboa, de táxi claro.!!!!
Visitámos a sala de exposição de equipamentos de Radioamador, uma vez que a Empresa estava mais vocacionada para a Área de Telecomunicações Marítimas.
Fiquei espantado com aquilo que estava a ver.
Lembro-me do Receptor TRIO JR-500SE ( algum tempo depois, tive um receptor destes que me foi cedido pelo CT1ZX-Rui Penaguião), lembro-me do TRIO TR2E de VHF, do TRIO TS-510 e outros.
Quando regressamos da ONDEX, o Eduardo Silva entregou-me um Catalogo da ONDEX onde tinha o Receptor JR-500SE, onde anotou á mão o seu Nome e o telefone de sua casa, para futuros contactos.
Ainda hoje…passados todos estes anos, tenho guardado religiosamente esse catalogo nos meus pergaminhos.
O Eduardo Silva mostrou-se logo interessado num equipamento que era o TRIO TR2E de VHF, que mais tarde veio a adquirir.
Dali fomos jantar a um Restaurante na Avenida de Roma, ao lado do Hotel com o mesmo nome, onde o Eduardo já era conhecido e ali nos encontramos com o seu colega de trabalho, que também era Radioamador o CT1PN (Pólo Norte) José do Nascimento, que era um alto Dirigente do RCP.
Foi um jantar memorável…eu um “puto xarila”, um Profissional da Rádio (Sonoplasta) e um Veterano do Radioamadorismo e da Radiodiodifusão o CT1PN.
Estava como peixe na água.!!!
Depois do jantar, o Eduardo Silva tinha de ir entrar ao serviço no RCP (Rádio Clube Português), pois ia fazer o turno da noite, das 23 horas ás 7 da manhã.
Despedimo-nos do CT1PN-Nascimento e o Eduardo, tal como tinha combinado, levou-me de táxi até aos Olivais Sul, fazendo questão em me entregar pessoalmente á porta de minha casa, para espanto do meu Pai.
Iniciamos então, uma grande e duradoura Amizade.
Ficou logo combinado que no sábado próximo, iria ter com ele ao RCP por volta das 20 horas, jantaríamos juntos, para depois fazer-mos a noite nos Estúdios do RCP até de manhã, o que me agradou imenso como deverão calcular.
Foi através do Eduardo Silva que conheci algumas figuras da nossa rádio, como por exemplo, Fialho Gouveia e Carlos Cruz do Programa “Pão com Manteiga”, Júlio Isidro e Ana Zanati no FM Stereo do RCP, que estava então a dar os primeiros passos, o “Sr. Messias” do Rádio Rural, José de Oliveira Cosme, Mery e Jesuina do Programa “A Vida é assim…Artur Agostinho no Desporto, ”, Matos Maia no “Quando o telefone toca”, Os Parodiantes de Lisboa, o Jorge Moreira que era o noticiarista de serviço do RCP, etc…etc…etc.
Quase todas as manhãs ou noites (consoante os turnos de trabalho do Eduardo ou meus) contactávamos através dos 144 MHz, onde fazíamos longos e amistosos QSO’s falando ora da propagação, ora de antenas, ora de rotores, ora ainda de FM que se começava a ouvir falar então em possíveis emissões nas bandas de amador.
Visitava frequentemente o Shack do Eduardo em Campolide, tendo-me a certa altura o CT1HQ oferecido um Medidor de SWR de fabrico Comercial.
Foi também no seu Shack que conheci o Colega Jorge Araújo CT1AR, onde tinhamos uns QSO’s de metro a 100%.
Bons tempos que é sempre bom recordar.
E eis que….chegou o 25 de Abril de 1974.
Após esta data, o “Rádio Clube Português… a Emissora da Liberdade”, não foi muito “Liberal” para o Eduardo Silva, que por motivos Políticos o afastaram a ele e a outros Colegas, porque não participavam nas manifestações organizadas pelos Sindicatos.
De notar que o Presidente do Sindicato era então um Colega e Amigo do Eduardo Silva, funcionário do RCP-Luis Filipe Costa.
Centro Emissor Rádio Clube Português
Assim foi transferido da Rua Sampaio Pina em Lisboa, para as instalações do Centro Emissor, na Castanheira do Ribatejo.
Foi um duro golpe psicológico e físico para o CT1HQ-Eduardo Silva.
As longas viagens entre Campolide e Porto Alto, as noites sem descanso fora de casa, a revolta da situação que lhe foi criada, o excesso de tabaco, motivaram passado algum tempo, a doença….uma daquelas que infelizmente o ser Humano ainda não conseguiu dominar e combater.
Ao Eduardo Silva, lhe devo todo o conhecimento que me proporcionou durante todo esse tempo que nunca irei esquecer, ficando sempre gravado na minha memória, a sua imagem, o seu sorriso simpático e cordial, a sua maneira muito própria de estar na Vida.
Onde quer que estejas, meu “sacrista” um grande e fraterno abraço do teu Amigo….Xico Zé…CT1DL.!!!
O EMISSOR T-150A
Quando por volta de 1970 me iniciei a operar em Onda Curta – HF, comecei por utilizar um Emissor da marca KnigthKit modelo T-150A e um receptor também da KnigthKit modelo R-100A, cedido pelo Colega CT1XI-Mariano Gonçalves, que nessa altura morava ali bem perto do meu QTH nos Olivais Sul.
Para um “Puto” de 18 anos, que não percebia nada destas habilidades….a coisa não era fácil !!!!
Mas, nem tudo foi mau!!!.
Devido a esta prática, que adquiri ao longo do tempo em lidar e ajustar estes equipamentos mais antigos (que na altura eram modernos e actuais), criei também a sensibilidade e engenho, de poder realizar medidas e ajustes com muito mais precisão e habilidade.
O RECEPTOR
R-100A
Receptor Knigthkit R-100-A
”Mariza….Mariza…é Gracinha que responder….vou a caminhe da lota de Portimão…. léve aqui dois porõns de sardinha miuda….diga lá se está a ouvir Mestre Zé….escute”
“Ah recebide…Ah recebide Mestre Antóine….boa viaje…ê vou p´ra lota de Léges (Lagos) e leve aqui e dôs (dois) porões (porões) de sardinha grauda e já lá deve ter chegade uma enviada (barco mais pequeno de apoio) de garapaus (carapaus)…Boa viaje e boa pesca….escute”
“Ah recebide…Ah recebide Mestre Zé….intão boa viaje e até mais lóge….bom descanse e terminade….”
Sem eles, teria sido muito mais difícil a minha integração no Mundo do Radioamadorismo e, certamente hoje talvez não fosse o Radioamador CT1DL de que tanto me orgulho, seria certamente mais UM dos que na sua passagem pela Terra….apenas “nascem…crescem…reproduzem-se e morrem”, sem nunca terem tido o privilégio de sentir na alma, (entre outras coisas) o prazer de no conforto do seu Lar, ter ali o MUNDO inteiro, á distancia da sua mão.!!!!
Após estas desgraças todas, logo que tive oportunidade desfiz-me destes equipamentos que algumas alegrias me deram….e lá me meti noutra “alhada” que me ia saindo bastante cara, senão…. vejam em seguida como tudo aconteceu.
Capitulo VII
O Meu 1º. Equipamento de Fábrica HF
Numa das minhas visitas de sexta feira á noite, lá no RCP (Rádio Clube Português) o colega CT1HQ Eduardo Silva (já falecido) sabendo das limitações que os meus equipamentos tinham, propôs-me o seguinte: “Oh Gonçalves…vende os teus equipamentos KnigthKit’s e compra mas é um transceptor de HF como deve ser pá….” .
O Famoso YAESU
FT-100 de 1970
E foi aqui que rebentou a grande bronca e começou a estalar o verniz.!!!!
Como era sábado, o meu Pai estava em casa e apercebeu-se de imediato que eu tinha entrado com uma caixa de cartão enorme para o quarto onde tinha a minha estação.
E foi assim , desta maneira tranquila que terminou este episódio, que eu em determinada altura “vi o caso mal parado”.
Corri para o quarto dos rádio e, qual não foi o meu espanto, vi uma nuvem de papelinhos brancos muito pequeninos a pairar no ar e um cheiro a ácido e a alcatrão que quase não se podia respirar lá dentro. Desliguei o FT-100 mas….já era tarde demais.!!!!
Foto ilustrativa do que podia ter acontecido ao meu
velho YAESU FT-100
Este veio mais tarde a ser vendido a um Colega Radioamador da zona de Coimbra, creio que este ainda está funcional segundo o próprio faz uns tempos me confirmou.
O Meu 1º. Equipamento de Fábrica VHF
Deveríamos de estar mais ou menos no Ano de 1980.
A estação CT1AN era também operada pela 2ª. Operadora, a Esposa do Colega Nascimento, D. Judite Nascimento operadora com carta Nº. 1076.
Foto ilustrativa de um TRIO TR-2E
O Colega Nascimento CT1AN, gentilmente explicou-me qual a sua intenção em querer vender aquele equipamento, pois desejava adquirir um outro da Marca TRIO-Kenwood modelo TS-700 que já tinha o modo de SSB incluído.
Começava-se naquela altura a dar-se inicio ás comunicações a longa distancia, em especial em banda lateral onde se conseguiam fazer bons contactos, assim que havia uma abertura de esporádica E para as Ilhas Canárias, Norte de África, e Espanha.
O CT1AN deu-me uma explicação sumária sobre o funcionamento do TRIO TR-2E, que me deu muito jeito, uma vez que nunca tinha trabalhado com outro equipamento semelhante anteriormente. Ajustámos o preço do equipamento e, lá vim eu de saco na mão com o TRIO TR-2E até aos Olivais Sul. Passados dias, vendi o meu velhinho emissor de VHF, que trabalhava nos 144.180 MHz em AM e de construção caseira, para um Colega de Coimbra o CT1HM-António Antunes.
O TRIO TR-2E foi para mim uma novidade tremenda, poder desfrutar da possibilidade de escutar toda a banda dos 2 metros e poder transmitir em qualquer frequência, sem estar limitado á frequência do único cristal que dispunha para emissão.
Depois o equipamento para além de ser extremamente funcional, era também bastante bonito o que me levava a ficar vaidoso quando outros colegas me visitavam o shack e diziam: “é pá Oh… Gonçalves que maravilha, tens um TR-2E.????” .
Aí eu ficava todo inchado de vaidade que nem um chouriço. Era um equipamento híbrido já com Nuvistores, transístores e válvulas, usando uma 12BY7A como excitadora de RF e uma 6360 (QQE03-12) no andar final, que debitava cerca de 12 watts para a antena.
Trabalhava a VFO dos 144 aos 148 MHz em recepção e de 144 a 146 MHz na emissão, ou então a cristal. Usava cristais de 8 MHz, que triplicados davam os 24 MHz, depois triplicava esta frequência para 72 MHz e finalmente dobrava para 144 MHz, obtendo assim uma melhor estabilidade de frequência.
A modulação em AM era gerada por duas válvulas 6AQ5, que alimentavam a placa da válvula 6360 do andar final de RF. Trabalhava a 220VAC ou então a 12 VDC, pois possuía internamente um Conversor DC/AC para o efeito.
Era na verdade um bonito equipamento para aquela época, que deixava vaidoso qualquer radioamador que o possuísse.
O Meu 1º. Equipamento de Fábrica VHF
Este QSO durou sensivelmente 10 minutos e….eis que acontece o seguinte: - estava no uso da palavra o Colega DOM I8CVS, quando o sinal dele começou a diminuir no meu S-Meter até chegar ao Zero completamente, mas….ainda ia ouvindo com alguma dificuldade o Colega I8CVS, até que….. o sinal de áudio desapareceu completamente do meu receptor….até hoje, ficou apenas a confirmação deste QSO através do QSL que recebi mais tarde via QSL Bureau da REP conforme se pode comprovar em anexo.!!!!
Passado algum tempo, fui contactado telefónicamente pelo Colega Corte Real (CT1OW) que era pessoa bastante próxima do de CT1PQ- Miguel Caro Veiga, propondo-me a compra do meu equipamento Heathkit HW202, o que me deixou bastante admirado.
O Meu 1º. Equipamento de Fábrica VHF
Foto ilustrativa do meu ICOM
IC-22-A
O Colega Reis Ferreira CT1JQ, trabalhava na altura na FORD na Azambuja, em regime de turnos tal como eu.
Manual do ICOM IC-22-A
Coloquei tudo de novo na respectiva caixa de transporte e arrumei tudo num armário ali bem perto, até falar com Reis Ferreira e esclarecer tudo, acerca daquela situação tão embaraçosa.
QSL´s demonstrativos do CT1JQ Reis Ferreira e da CT4YU Virginia Marques
Capitulo XI
CT1QA - Capitão Jaime Varela Santos
Vou falar-vos agora de um Colega (infelizmente já falecido) com quem privei durante muito tempo e que me deixou imensas saudades.
Dedicatória
a CT0334 (CT1DL)
As condições eram bastante limitadas, especialmente em recepção, visto possuir apenas um superheterodino a válvulas que havia lá por casa e que tinha servido para ouvir musica, os Parodiantes de Lisboa e os romances do TIDE.
Daí que um dia em QSO nos 40 metros com CT1QA, o meu Amigo Capitão Jaime Varela Santos me perguntou que tipo de receptor eu dispunha para onda curta, uma vez que trabalhava com emissor e receptor separados.
Disse-lhe então, que apenas possuía um receptor superheterodino, coisa que levou o CT1QA a ficar admirado devido ao facto de eu conseguir fazer tantos QSO’s especialmente em 40 e 80 metros.
No seguimento do QSO, o Capitão Varela Santos CT1QA, deu-me conhecimento que havia no mercado uns Conversores da Geloso modelo G-4/104 que eram bastante fáceis de montar, uma vez que apenas necessitavam de alimentação de filamentos 6,3 VAC e + 250 VDC para alimentação das válvulas desse modulo.
O conversor tinha uma FI (Frequência Intermédia) de 1,5 MHz a 1,6 MHz logo portanto, servia perfeitamente para receber no meu velho receptor a válvulas, tornando assim o sistema de recepção numa clássica 3ª. Conversão, o que tornava a escuta mais selectiva e logicamente mais sensível.
Gostei da ideia….e passados dias fui até ao representante dessa marca (Geloso) ali para os lados da Avenida Almirante Reis em Lisboa, para saber o preço desse conversor.
“ entrei….cheio de entusiasmo, sai…cheio de vontade de chorar…”.
Quando perguntei o preço do conversor, disseram-me que tinham, de o importar de Itália e que demorava cerca de 2 meses a chegar, o preço….uma pequena fortuna ( 7.000$00 ) para quem tinha um ordenado de 2.000$00 por mês (…lembro-vos que estávamos nos anos 70’s e a vida era outra…).
Passados uns dias, voltei a contactar o CT1QA nos 40 metros e quis dar-lhe noticias dos últimos acontecimentos.
CT1QA – QSL época 1972
O CT1QA-Capitão Varela Santos, depois de eu lhe ter explicado a minha angustia relativamente ao preço do conversor, rematou assim: “….olhe meu Caro Gonçalves, não se apoquente com isso….talvez se consiga por aqui remediar a situação….deixe lá ver…”.
Fiquei um pouco confuso, mas….não quis aborrecer mais o CT1QA com aquela história do conversor de HF e de não ter disponibilidade financeira para o adquirir.Continuámos a falar frequentemente nos 40 metros, sem nunca mais falarmos da “porcaria.???” do conversor da Geloso que eu já tinha retirado da minha ideia.
Até que um dia….surgiu o que me levou a escrever esta história:
Era sábado de manhã, fiz a minha habitual pré-escuta ( como era norma daqueles tempos…) aos 40 metros e lá estava o CT1QA em QSO com outro colega, creio que o CT1PK … Dr. Fragoso de Almeida da Cidade do Cartaxo.
Fiz-me presente, tendo sido logo atendido de imediato com a gentileza e a educação que caracterizavam o CT1QA (…sem desprimor para outros Colegas…).
Ali ficámos durante algum tempo em amena cavaqueira, até que chegava a hora de nos despedir-mos, visto serem quase horas de almoço.
Foi então que o CT1QA me perguntou: - “Meu Caro Gonçalves, diga-me por favor se na próxima 2ª. Feira está aí pelo QTH de seus Pais, durante a parte da manhã.???...).
Respondi afirmativamente, tendo sido combinado então que o CT1QA, uma vez que tinha de viajar até Lisboa no Domingo a seguir, permanecendo na Capital até á próxima 4ª. Feira.
O Capitão tinha na altura um apartamento em Lisboa, na zona do Pote de Água, onde operava a sua estação de Amador com o indicativo de CT1CR.
Aproveitou a sua deslocação para me fazer uma visita o que achei uma óptimo a ideia, uma vez que não nos conhecíamos pessoalmente embora já nos conhecêssemos da Rádio fazia algum tempo.
Na 2ª. Feira seguinte, por volta das 11 horas da manhã bateram á porta de minha casa, e a minha Mãe veio chamar-me ao meu shack, onde estava na altura em QSO nos 144 MHz com o Colega Antunes CT1CO, que ensaiava um pré-amplificador de RX para os 144 MHz a Mosfet´s, coisa rara naquela época.
Dirigi-me á porta…e deparei-me com um Senhor alto, de cabelo branco, corpo atlético e que me pareceu rondar a casa dos 60’s e alguns anos de idade.
Como é normal, seguiram-se as apresentações formais, tendo desde logo verificado que aquele Colega tinha algo de diferente dos Colegas que tinha conhecido até então (…não me levem a mal ….por favor, mas são coisas de putos daquela altura…hi…hi…hi….).
A maneira de falar era doce, melodiosa, calma, cordial, afável, simpática e duma educação extrema.
Parecia-me até que media as palavras antecipadamente antes de as proferir.
O Capitão trazia na mão um pequeno pacote, que fez questão de me entregar dizendo:
- “…meu Caro Gonçalves, tem aqui uma coisa que lhe quero oferecer, uma vez que a si lhe vai dar muito jeito e a mim não me faz falta alguma…”.
Fiquei admirado com a oferta, tendo o Capitão Varela Santos feito questão em que eu desembrulhasse o pacote e visse o que ele continha.
Abri-o…com as mãos trémulas de nervoso.
Deparei-me com uma caixa em cartão que dizia por fora, Convertitore Geloso G 4/104.
Fiquei para morrer de espanto, enquanto olhava para a cara do Capitão Jaime Varela Santos CT1QA e via a sua expressão de alegria e admiração pela reacção que eu tinha tido quando abri o pacote que ele me tinha entregue.
Era um sonho…que eu não esperava ver realizado tão depressa.
O Capitão deu-me então, todas as explicações e pormenores para a montagem do conversor, levando em linha de conta, a minha falta de conhecimentos e experiência nesse campo.
Conversor Geloso G4/104 oferecido pelo Capitão Varela
CT1QA
Passados alguns dias, já o meu conversor estava a trabalhar, depois de ter tido a ajuda de outros colegas, que me disponibilizaram alguns componentes para a fonte de alimentação, que era preciso construir.
E trabalhava muitíssimo bem, agora sim….tinha uma recepção maravilhosa, estável, selectiva, com uma sensibilidade que nada tinha a ver com o meu modesto receptor musiqueiro.
A moral desta história e que quis partilhar convosco, tem a ver com a maneira de estar que os Radioamadores de outros tempos tinham em relação á entreajuda, ao auxilio, ao acompanhamento dos Radioamadores mais novos, emendando-os nas suas atitudes, chamando-lhes á atenção quando se tornava necessário se alguma coisa estava menos bem.
Sem querer….estávamos numa Escola diáriamente, cada vez que ligávamos o nosso rádio, onde todos aprendíamos e nunca achávamos que já sabíamos tudo.!!!!
Quem conheceu mais de perto, ou quem alguma vez escutou na Rádio o CT1QA-Capitão Jaime Varela Santos, certamente achará que aquilo que aqui estou a relatar relativamente á sua postura, á sua educação, á sua cordialidade, á sua capacidade Técnica, ao seu poder inventivo….é muito pouco….é muito modesto…é infimo.
Para os menos conhecedores da Vida e Creatividade do CT1QA, deixo-vos aqui só algumas notas breves sobre a sua Obra:
- Chefe do Posto da GNR de Setúbal.
- Dirigente da REP-Rede dos Emissores Portugueses
- Construiu totalmente todo o equipamento de Emissão, recepção, antenas, equipamento de áudio e gravação da Rádio Ribatejo em Santarém, do qual era proprietário.
- A Rádio era “a menina dos seus olhos”.
- Falava fluentemente Inglês, Francês e Castelhano.
- Lançou na Vida artística alguns Artistas ainda hoje conhecidos( para os mais velhos….claro…), tais como António Mourão, Vasco Rafael, Tonicha, entre outros.
- Era Pai da primeira locutora que a RTP teve nos anos 50’s, a Maria Helena (mais tarde Maria Helena Fialho Gouveia).
- Passaram pela Rádio Ribatejo alguns locutores também conhecidos daquela época, Fialho Gouveia, António Sala, Matos Maia, Júlio Isidro, etc.
Mas acima de tudo era um Radioamador exemplar, arrisco-me mesmo a dizer, que nunca ninguém deve ter ouvido da boca do CT1QA, uma palavra agressiva, um comentário despropositado, um mau aconselhamento.
O 25 de Abril, veio fazer desmoronar os objectivos da Rádio Ribatejo, os interesses Comerciais começaram a fazer-se sentir, a pressão, o poder do monopólio, a Politica.
O Capitão Jaime Varela Santos foi uma das grandes vitimas dessa época um tanto ou quanto conturbada e pouco coerente, em que prevalecia apenas e só a força ( ficticia) de quem mandava.
O resultado foi catastrófico….a Rádio Ribatejo acabou por ruir como um castelo de areia,desmoronava-se um sonho de tantos anos, uma Vida de dedicação e afecto a uma única causa….A RÁDIO RIBATEJO em Santarém.
Trabalhava em Onda Média, e lembrar-se-ão alguns do seu “gingle” de abertura: “ musica do fandango ribatejano, seguida de:- “de Santarém transmite a Emissora Rádio Ribatejo, a trabalhar no comprimento de onda 226,9 metros e na frequência de 1.322 quilociclos”.
O CT1QA veio a falecer sem que eu tivesse tido conhecimento originando em mim uma mágoa avassaladora que ainda hoje não consegui ultrapassar, pois tinha grande admiração e respeito pela sua pessoa.
Assim acabou um sonho, assim acabou uma Vida que foi dedicada intensamente a uma única causa, a de servir a população do Ribatejo ( lembrem-se… que estávamos nos anos 60/70).
Foi psicologicamente maltratado, insultado, talvez porque a ignorância do ser Humano funciona assim, esquecendo-se certamente que do outro lado estava um HOMEM e não mais um, dos muitos que por aí “habitam” no Radioamadorismo.
Certamente… que se conhecessem melhor, a sua Obra e a sua Vida de Radioamador e de HOMEM, não teriam sequer a coragem de contribuír para a destruição moral e psicológica, da sua pessoa, fazendo com que nem sequer aquilo que o CT1QA gostava de fazer na Vida, lhe desse alegria e Paz de Espírito bem merecidos.
Hoje….infelizmente…já ninguém se lembra deste nome, mas… eu nunca poderei esquecer este HOMEM que marcou a minha Vida de Radioamador, pedindo a todos os Radioamadores daquela época, que se juntem a mim e em conjunto…façamos uma Vénia de gratidão ao:
CT1QA-Capitão Jaime Varela Santos
Capitulo XII
Estação de Radioamador de
Construção caseira, anos 70’s
Era este o nome, pelo qual se designavam os Ferro Velhos que serviam de “supermercados” aos Radioamadores dos anos 60’s, 70’s e 80’s.
Nessa altura, como devem de calcular, não era fácil aos amadores poderem dispor de material de alguma qualidade para fazerem as suas experiências com emissores, receptores, pré-amplificadores de antena, antenas, fontes de alimentação, etc...etc...
Além de que, no mercado comercial nessa altura não abundavam Firmas que dispusessem de material vocacionado para esta área especifica de radiocomunicações, pois os esquemas e artigos de revistas que dispunha-mos nessa altura eram de origem Americana, Inglesa ou Alemã, cujo mercado interno desses Países estavam mais desenvolvidos comercialmente.
Daí que, a maior dificuldade que logo nos surgia quando pensávamos deitar mãos á obra em qualquer construção, era a aquisição dos componentes, sem fugirmos ás especificações dadas pelos seus autores, evitando assim os amargos de boca, dores de cabeça e o desespero do insucesso da construção, que por vezes durava semanas e nalguns casos meses.
Nessa altura em Portugal mais concretamente em Lisboa, haviam a RUALDO, RADIO LUX, GELOSO, ONDEX e PINTO LEITE na Cidade do Porto.
De todas, só uma ou outra disponibilizava acessórios ou componentes avulso e a preço acessível ás bolsas dos radioamadores que nessa época auferiam salários médios de 3-4 mil escudos mensais.
Estes Ferro Velhos geralmente e salvo algumas excepções, adquiriam ás Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Aérea) equipamentos obsoletos, avariados, fora de serviço e que geralmente provinham dos diversos Quartéis espalhados pelo País e pelas antigas Províncias Ultramarinas de Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, Goa Damão e Diu, pois nessa altura Portugal estava abraços com uma Guerra Colonial de má memória para todos nós.
Esses equipamentos depois de transportados para os ditos “ervanários”, destinavam-se a ser desmantelados, aproveitando-se tudo o que era cobre, latão, alumínio, ferro e então vendidos para a Siderurgia Nacional, ao kilo onde seguidamente eram derretidos nos altos fornos e os diversos metais aproveitados para outras aplicações.
Na pré-fase do desmantelamento nos “ervanários”, alguns Radioamadores tomavam conhecimento através de outros Amadores, pelos próprios empregados dos Ferro Velhos ou até pelos seus donos, que tinham recebido material proveniente do Exército, da Marinha ou da Força Aérea e que seguidamente tudo ia ser danificado.
Era aqui que começava a verdadeira correria aos “ervanários”, na esperança de se conseguirem os melhores materiais em condições de serem aproveitados, para além da sua qualidade, visto a origem ser Militar e consequentemente, apresentarem padrões e níveis de qualidade superiores aos vulgarmente encontrados no mercado Nacional.
Compravam-se nestes locais, a muito baixo custo, coisas preciosas para as nossas experiências, tais como:
Como devem de calcular, eram tempos diferentes dos de hoje, pois era sempre dificil conseguir arranjar aquilo que necessitávamos para realizar os nossos projectos, ao invés de hoje, que vamos á loja e compramos...compramos no EBAY, ou em ultima análise, mandamos vir de qualquer local do Mundo via Internet, assim tenhamos dinheiro para o fazer.
Numa manhã de sábado, um grupo de 7 Radioamadores aqui da zona de Lisboa, do qual eu fazia parte (e o já falecido Diogo CT1EJ), combinámos e fomos a um “ervanário” ali para os lados do Poço Bispo, num velho armazém que alojava uma quantidade enorme de equipamentos de comunicações do Exército, que tinham acabado de chegar do Depósito de Material do Exército em Linda-a-Velha, fazia apenas umas horas.
Aquela informação tinha sido fornecida ao Colega Diogo CT1EJ, através do seu Pai que era funcionário da antiga DSR-Direcção Serviços Radioeléctricos dos CTT em Barcarena, uma vez que era Amigo do dono do armazém em questão.
Na Sexta Feira á noite, o Colega CT1EJ-Diogo, dava indicação a todo o pessoal do grupo, via rádio em VHF:
“...malta...amanhã, todos equipado com alicates de corte e chaves de parafusos Philips e normais....quem tiver alicates de grifto ou chaves inglesas podem levar...se puderem levar também serrotes pequenos, levem, pois vão fazer falta....”.
E lá fomos em romaria, até ao local onde nos tinham informado que havia “volfrâmio”....ou seja.... sucata para podermos desmanchar á vontade...cortar fiarada, aproveitar suportes de válvulas, válvulas, xtais, condensadores, trimmers, transformadores, electrolíticos, desmultiplicações mecânicas, pequenos motores, caixas metálicas, baterias, auscultadores, chaves de morse, isoladores para antenas de HF, componentes diversos e outro tipo de material, estava ali á nossa inteira disposição sem qualquer tipo de restricções.
Entrámos... e fomos recebidos pelo proprietário do armazém, que por indicação do Pai do nosso colega Diogo CT1EJ, nos conduziu até ao local onde estavam todos os equipamentos, que algumas horas antes tinham sido recebidos.
Aquilo deveria ter sido digno de ver de longe....aquelas 7 caras de “parvos” a olhar para aquele amontoado de equipamentos, alguns com aspecto de novos, sem uma única besliscadura....ali mesmo á mão de semear.
“Vamos....fiquem á vontade....e se precisarem de ajuda... dêem uma assobiadela, que eu venho logo até aqui num instante.!!!
Ah....e tenham cuidado rapaziada.... não se magoem aí nas chapas e nos arames, tenham cuidado com isso....vejam lá.!!! “
Olhámos uns para os outros... com ar de aparvalhados, sem saber por onde começar.!!!!
Bom....vamos lá começar por aqui por este lado, disse o CT1EJ.
Começaram então os alicates e também as chaves de parafusos a funcionar, depois as chaves inglesas e finalmente os serrotes.!!!
Só se ouviam os ruidos das ferramentas a serem aplicadas aos equipamentos ali existentes, e começaram a surgir então so resultados das pesquisas.
“É pá oh...Diogo...olha aqui...tantos Xtais novinhos em folha dentro, desta caixa de esferovite...até parece que nunca foram usados.!!!!”
Ao fundo, bem “encavalitado” em cima duma pilha de caixas de madeira, com inscrições de códigos militares, assim como o local do destino que teve o seu conteudo, estava este vosso amigo...triturando um amaranhado de fios com um alicate de corte, que cortava optimamente, manteiga numa tarde quente de Verão.
Do outro lado dos fios, estavam uns 20 e tantos mini-interruptores de tres posições (on-off-on), duma qualidade belissima e que deveriam ter desempenhado multiplas funções num painel de controlo de algum equipamento militar.
Espreitei um pouco mais abaixo e os meus olhos cairam mesmo em cima duma coisa meio esquisita, que naquela altura não estava bem a ver o que era.
Calmamente...desci um pouco do local onde me encontrava, colocando um pé mesmo em cima duma caixa muito limpa e reluzente que me despertou desde logo a atenção. Que raio seria aquela coisa tão esquisita, meu DEUS !!!
O local era escuro e a falta de luz confundia-me, daí que só com muito custo consegui descobri finalmente o que era aquela coisa tão esquisita, que parecia a frente de uma catedral cheia de botões pretos e reluzentes de ambos os lados, varios comutadores que lhe dava um aspecto imponente.
Entretanto o resto do grupo , continuava na sua aventura silenciosa em busca de novos materiais, de chaves de parafusos numa mão, alicates de corte na outra.
Alguns elementos do nosso grupo, já tinham as algibeiras dos casacos, blusões e calças atulhadas de xtais, condensadores, interruptores, potenciómetros e outros acessórios de utilidade.
As nossas mãos estavam cheias duma gordura viscosa, que colava em tudo em que mexíamos.
Um dos colegas estava radioso, pois tinha encontrado uma peça bastante valiosa, um transceptor AN-GRC-9 de CW e AM, chave de morse, bolsa protectora, auscultadores, bolsa com antena, alimentador e respectivos cabos de interligação.
O colega Diogo CT1EJ, já tinha arranjado uma colecção apreciavel de válvulas QQV03-20, QQV03-40, 6146, 6360, e uma grande colecção de Válvulas miniatura Nuvistores, que estavam muito em voga naquela altura, nos diversos equipamentos de comunicações.
Válvula
QQV-03-20A
Chamei então o colega CT1EJ para lhe comunicar o achado.
No seu tom habitualmente “pachorrento” o Diogo quando olhou para aquela peça de arte e comentou: “ é pá oh Gonçalves....isto é uma “máquina infernal”....é um receptor de V e UHF da Marinha Americana, que deve ter andado montado nalgum navio de guerra, mas que está num estado de conservação espectacular.
É pá...vai já falar com o homem do armazém e vê lá se ele te deixa levar isso tudo inteiro, porque vale a pena.!!!”
Lá fui....muito a medo, á procura do senhor do armazém, na espectativa de que ele me deixasse levar aquela “bizarma” para casa.
Foi com muito custo, que consegui convencer o senhor, que aquilo era mal empregado estar a desmanchar, pois iria danificar o receptor totalmente, impossibilitando-me assim de poder usufruir das possibilidades daquela “máquina infernal”, tal tinha sido classificada pelo CT1EJ.
Ele lá concordou... embora com muitas reservas, pois... não sabia como é que eu iria transportar aquela coisa até casa, uma vez que pesava uns 35 kilos.
Fizemos logo ali as contas, 35 Kilos vezes 5 escudos, era igual a cento e setenta e cinco escudos.
Lá se tinham ido as minhas economias do mês !!!!
Agora só esperava que aquilo estivesse a funcionar bem.
Quando eu próprio me apercebi do peso que aquela “coisa” tinha....fiquei para morrer.!!! Senti logo um calafrio pela espinha acima... estava já a imaginar, como é que iria levar aquele “monstro” para casa dos meus Pais.???
O Colega Diogo CT1EJ pareceu que leu os meus pensamentos e prontamente se ofereceu para transportar a “máquina infernal” até aos Olivais em Lisboa, pois eu na altura não dispunha de transporte próprio.
Como é que eu iria convencer a minha Mãe, a poder instalar aquela “coisa” dentro do meu quarto.???
Faltava-me agora esta....mas tinha de resolver o problema e depressa.
Tive de inventar uma história muito bem arquitectada para levar de vencida a minha Mãe que era uma Mulher muito difícil de virar e convencer !!!!
A solução foi de dizer-lhe que me tinham oferecido aquele receptor, caso contrário tínhamos o caldo entornado.!!!!
Depois de escolhido o local exacto na minha pobre bancada onde iria ficar o receptor, havia de ligar o dito e verificar se a “coisa” funcionava.
Após uma verificação mais pormenorizada sobre o painel traseiro do receptor, constatei que o mesmo era alimentado a 110VAC e não aos 220VAC da nossa rede eléctrica publica.
Pronto….já está tudo “lixado” pensei logo, agora que a minha Mãe queria ver aquela “coisa” a funcionar pois achou a história que eu lhe tinha vendido, muito mal contada.!!!
Tive de recorrer então ao meu vizinho do prédio ao lado, o Rui Sá Nogueira CT1VC, para me ceder algum auto-transformador de 220VAC/110VAC que aguentasse a corrente de consumo daquela “bisarma”.
Por sorte o Rui estava em casa e depois de ouvir a minha história aflitiva, foi procurar nas suas velharias, algum transformador que servisse para as minhas necessidades e que me tirasse daquela angustia.
Passado alguns minutos, ouvi o Rui CT1VC dizer em vóz alta “…está cheio de sorte oh…Gonçalves….está mesmo aqui um transformador que é o indicado para o seu receptor….”.
Surgiu então de dentro de uma enorme caixa de madeira, um grande transformador que dizia Auto-Transformer AC 220/110V 50 to 60 Hz.
E pronto lá fui eu porta fora, com o transformador cedido pelo meu vizinho e grande Amigo CT1VC-Rui Sá Nogueira, que mais uma vez, me resolveu um problema, que inicialmente me parecia difícil de solucionar.
Liguei-lhe uma antena de VHF de 5 elementos que estava montada no alto do telhado da prédio onde morava, rodei o botão de sintonia na range dos 130 aos 150 MHz…e….olá….que é isto.????
Não podia ser…o CT1ZB da Figueira da Foz, o Colega Vasco Aguas a chegar com 59+30 dBm no s-meter do receptor….
Fiquei para morrer de contente, até que enfim tinha uma recepção da banda dos 2 metros como devia de ser, pensei eu.
Claro que depois foi só explorar as diversas ranges que o receptor cobria, e até recebia a banda do FM Comercial (em mono) que era uma maravilha.!!!!
Fui logo á cozinha chamar a minha Mãe para lhe dar a noticia, até para ela ver que aquilo que eu lhe tinha dito era só um “bocadinho mentira”, o que ela achou muita graça, daquela “coisa” tão grande e pesada até dar musica com tão boa qualidade.
E foi assim, que mais uma vez, consegui levar de vencida a irritação da minha Mãe, que coitada… tanta paciência tinha para aturar as minhas “parvoíces” de um “puto” que estava a começar a sonhar.
Á minha Mãe e ao meu Pai, agradeço tudo o que me aturaram e tudo quanto me toleraram, para que eu conseguisse um dia… vir a ser aquilo… que já tinha traçado com objectivo na vida….SER UM RADIOAMADOR.
Capitulo XIII
Antes de mais, quero dizer-lhes, que conheço o Colega Grilo já faz uns bons 40 e tal anos, era eu um “puto” (tinha uns risonhos 17 anos) acabado de ser formado na velha escola, do Radioamadorismo, já o Grilo era um homem feito, casado, exercendo a sua profissão de Técnico de Electrónica na RARET (Empresa já extinta pelos seus donos, os EUA) localizada na Glória, ali bem no coração do Ribatejo. Nessa época morava eu em casa de meus Pais, nos Olivais Sul, perto do então QTH de CT1VC, Rui Sá Nogueira. Ali bem perto, morava o Colega CT1XI-Mariano Gonçalves, que além de ser um grande amigo, era também meu colega de batente, na Empresa PLESSEY-Automática Eléctrica Portuguesa, em Cabo Ruivo, também já extinta faz alguns anos.
Tive ocasião de algumas vezes, visitar o Grilo na sua casa, dentro das instalações da RARET onde habitava, tendo ali ocasião de constatar pela primeira vez, as influências que a RF (Radiofrequência) tinha nalguns objectos caseiros, tais como lâmpadas fluorescentes que acendiam sem estarem ligadas nos interruptores, devido ao campo Radioeléctrico gerado pelos emissores de onda curta durante certas horas da noite em que os emissores debitavam a sua máxima potência para assim poderem alcançar os locais onde se destinavam as emissões.
Assim, por vezes tinham de se retirar as lâmpadas fluorescentes dos seus suportes e colocá-las atrás das portas das dispensas, para que as pessoas pudessem descansar durante a noite e não serem incomodadas com o flamejar das lâmpadas ao ritmo das vozes e das musicas que os emissores enviavam para as cortinas de antenas ali instaladas.
Fazíamos Qso’s frequentemente em VHF e o Grilo era sempre um grande entusiasta das comunicações em VHF e falava-me já naquela altura em comunicações em UHF que era a banda do futuro, o que eu devido à minha ignorância radioamadorística não acreditava muito, diga-se em abono da verdade.
QSL ainda do tempo em que era CT0334-SWL e tive
de estar 2 anos á espera para ser CT1DL
Entrada da RARET em 1972
Então o Colega Grilo, levou-me ao local do crime….subimos ao primeiro andar….ele foi buscar umalâmpada de filamentos para 12V-150mA (estes valores já não estou certo deles, mas fica registado apenas como exemplo…) colocou-a no centro de uma ficha PL-259 Fêmea que era baixada da antena dos 40, e que estava montada numa régua de ebonite com todas as antenas de HF.
Ai…percebi finalmente, que devido à forte intensidade de campo existente no local, era de todo impossível ter no receptor menos de 59 de QRM....era impressionante acreditem.!!!
Bom…muito teria de contar de episódios dessa época com o CT1DY, como por exemplo ter aprendido com o Grilo a fazer botões para utilizar nas construções de receptores e emissores, conversores, utilizando as tampas dos dentífricos da Colgate e Pepsodente e, que ainda hoje muitos Amadores desconhecem as dificuldades que o Radioamador naqueles tempos sentia ( $$$$$$$$ ) em conseguir arranjar maneira de comprar esses botões para embelezar e dar vida aos seus equipamentos.
Mas isto foi só para vos dizer que conheço o CÊTÊ...UM…DÊ…IPESILÃO, já faz uns bons anitos….
Já havia muito tempo, que tinha intenção de fazer uma visita a um velho Amigo de longa data, o CT1DY - Colega António Monteiro Grilo.
Combinamos pela Rádio nos 145.350 MHz, o dia, a hora, o local e, lá pus pés ao caminho e fui ter com o Grilo a Vialonga.
À boa maneira Inglesa, 11:30 da manhã, lá estava eu á porta do Jovem Grilo, estando ele à minha espera na janela de sua casa com o seu portátil de VHF em punho, tal como tinhamos combinado.
Subi o elevador, deparei-me então com a porta já aberta…e lá do fundo ouvi uma voz já muito conhecida….”entra Xico… entra aqui para o fundo…. entra e fecha a porta….”
Lá me encaminhei para o local onde tinha ouvido a voz do Colega Grilo…lá estava ele…sempre amável…simpático….e quando a saúde o deixa… (o que foi o caso) muito bem humorado e brincalhão.
É pá…estás na mesma Xico…tu não te fazes velho….disse-me ele, estendendo-me a mão.
Depois das apresentações habituais e das saudações de quem já não se vê faz algum tempo, entrámos finalmente, no verdadeiro motivo (para além de poder estar pessoalmente com o Grilo) que me tinha levado a visitá-lo e a fazer-lhe perder o seu precioso tempo, …ver como se podiam receber imagens dos satélites meteorológicos… de saber, como era possível observar as manchas solares diariamente e fazer os seus registos….de conhecer, os equipamentos utilizados nestas buscas….que tipos de antenas eram utilizadas…enfim um sem numero de coisas que me despertaram o interesse e, que o Grilo gentilmente se disponibilizou para me explicar.
Mas… o Colega CT1DY, como pessoa organizada que é, traçou logo ali o programa para o dia…. “Oh….Xico, como são quase horas de almoço, vamos só receber aqui umas imagens do satélite que está quase a passar, até para veres como isto é….depois vamos almoçar e ficas desde já convidado por mim para irmos vitaminar fora, pago EU…ouviste.???
Tudo isto, devidamente acondicionado, devidamente protegido com resguardos em todos os equipamentos por causa das poeiras, tudo devidamente identificado com etiquetas nas fichas diversas de áudio, nas fichas de antenas, nas alimentações, os Mapas, as cartas, as tabelas das orbitas, os registos, enfim….a coisa estava como se tudo aquilo fosse uma verdadeira sala de operações de um centro de rastreio de satélites em plena laboração, dava gosto ver…e sentir o cheiro do mistério e do ambiente que ali se vivia…era a exploração do Espaço…o mistério que vinha dos Céus e que nos entrava ora pela janela ora pela antena do receptor.
Imagem de Satélite Noaa 15
Fomos então almoçar….deslocamo-nos a um Restaurante ali das redondezas e, enquanto almoçava-mos lembrámos episódios que tínhamos passado fazia já alguns anos, de colegas com quem privamos, de aventuras que tivemos com as nossas famílias, enfim um “recordar é viver”.
Após o almoço, lá nos dirigimos de novo até ao QTH do Colega Grilo, estava um calor de arrasar….o Grilo foi vestir então o seu traje de trabalho, fato-macaco de uma Marca de Motos Japonesas, bastante conhecida e ficou então pronto para aquilo que eu lhe tinha pedido e que ele fez magnificamente; - explicar-me tim, por tim tim…todos os passos e todos os segredos daquele “Mundo” que habitava dentro da sua casa e que eu tanto queria conhecer.
Passamos então para uma outra sala, ali estava instalado um enorme telescópio, montado numa estrutura de madeira desenhada e construída pelo CT1DY onde se poderia, entre outras coisas, regular mecanicamente a inclinação do telescópio relativamente à posição do Sol, aplicar filtros de protecção de UV, aplicar a imagem recebida do Sol a uma tela especial onde se identificariam as manchas solares, montar um elemento electrónico que possibilitaria visionar num televisor ou num monitor as imagens que estavam a ser projectadas pelo telescópio, acompanhar mecanicamente a trajectória do Sol, etc…etc…
Aquilo prometia.!!!
Mais ao lado um modelo mais simplificado de outro telescópio de construção caseira: home made CT1DY, que basicamente fazia o mesmo que o anterior, embora com menos capacidades e com menos resolução visto a objectiva ser de menores dimensões.
E foi com este mesmo telescópio, que o CT1DY me deu o privilégio de poder pela primeira vez na vida, ter visto "in loco" uma imagem projectada do Sol e as suas 5 manchas solares que se estavam a registar naquele preciso momento num gráfico ( construído também pelo CT1DY ) pelo Colega Grilo.
O Grilo, pegou então numa estrutura em madeira por si construída e, colocou-a num suporte, também de sua construção, que estava instalado no varandim da janela da sala onde estávamos naquele momento.
Este suporte estava já previamente posicionado em relação à hora e à posição do Sol naquele momento.
Tudo estava estudado... ajustado... calibrado... para que nada falhasse, quando fosse preciso fazer as leituras das manchas solares com aquele instrumento.
Falta-me dizer-lhes, que aquela estrutura de madeira construída pelo CT1DY, continha dentro o telescópio, bem como um mecanismo de desmultiplicação , que permitia fazer um ajuste muito fino, da deslocação das lentes do telescópio, permitindo assim focar com mais precisão e nitidez as imagens, que iriam ser projectadas na tal escala graduada, também ela construída pelo CT1DY.
"Bom...agora oh...Xico...vamos lá a ver se isto funciona....pois o Sol já se está a querer passar para o outro lado...." E ali estavam elas...as manchas solares…5 grupos de pontinhos devidamente definidos, espalhados pela superfície solar.
Como a imagem era de boa qualidade, o colega Grilo guardou-a numa pasta que o próprio programa continha, permitindo assim ao utilizador poder mais tarde reve-la ou imprimi-la.
Nota: Como todos os Cientistas e todos os estudiosos, eles raramente gostam de falar sobre si próprios....temos de ser nós, a ir ao seu encontro e, faze-los transpor cá para fora a sua sabedoria, a sua experiência, a sua capacidade ( quem não se lembra dos falecidos CT1WW-Tiago e Mário Portugal-CT1DT.???).
Portanto..... Caros Colegas....em especial aos Colegas mais Jovens....se gostam de conhecer coisas novas, se gostam de explorar o Universo, saber coisas sobre astronomia, trocar impressões sobre telecomunicações, conhecer um autentico laboratório caseiro de exploração espacial....se gostam.???...então um dia que possam, visitem o nosso Colega Grilo CT1DY, posso garantir-lhes que não vão dar por mal empregue o tempo da vossa visita.
Façam sentir ao Colega Grilo, que o seu esforço não está a ser feito em vão....façam sentir ao Grilo que ele tem muito que nos ensinar e nos dar da sua sabedoria, das suas experiências, do seu longo percurso como Radioamador e Homem das Ciências, pois se assim não for.....ele vai continuar a dizer-me:
Capitulo XIV
Quero partilhar convosco alguns episódios curiosos, passados durante a minha permanência ao Serviço do Exército Português, no período dos anos 72 a finais de 74.
As histórias são verdadeiras e alguns dos nomes fictícios, para não chocar ou ferir susceptibilidades.
Estávamos a 8 de Abril de 1972, tinha chegado a altura de dar o meu contributo e prestar serviço Militar obrigatório no Exército Português, assim... apresentei-me em Beja no RI3 (Regimento de Infantaria 3) para dar inicio á minha Recruta, ali bem no coração “quente” do Alentejo.
Imagem aérea do Regimento Infantaria 3 em Beja
Muitos deles, infelizmente por lá ficavam ( morriam em combate ) e não mais voltavam á sua Terra de origem, motivo pelo qual na maioria dos casos, quando ingressávamos na Tropa e nos despedíamos da Família, não sabíamos se nos voltaríamos a ver .!!!!
Era uma situação complicada, cruel, violenta, para a “malta” daqueles tempos, até porque naquela época não tinham a experiência de vida que felizmente a juventude actual desfruta.
Muitos, nunca tinham saído de casa dos Pais, nem da Terra que os vira nascer, viviam na Província, tratavam do gado, cultivavam o campo, alguns nunca tinham ido á Escola, não sabiam ler nem escrever….eram completamente analfabetos, dos pés á cabeça.!!!!
Motivo pelo qual, muita dessa Juventude era tentada a fugir para França, na esperança de não ter de lutar por uma causa… que parecia cada vez mais…perdida.!!!!
Passada uma boa hora e meia da hora prevista, lá partimos da estação da CP do Barreiro em direcção a Beja, com a “malta” toda eufórica uns aos gritos, (para não chorar…) outros mais comedidos ( que era o meu caso…) e outros indiferentes (pois estavam por tudo….).
Durante a viagem que durou apenas 9 horas, (qual TGV… qual Inter-Cidades.!!!) e depois de toda a “malta” estar mais calma, começavam-se já a fazer sentir as saudades da Família, da Terra, dos Pais, dos Irmãos e nalguns casos também das Mulheres e dos Filhos.
Por volta das 20 horas….finalmente chegámos a BEJA….quente, escaldante, sufocante, moderna, terrivelmente calma e Bonita.
Fomos transportados por autocarros do Regimento de Infantaria 3 para o Quartel, que ficava a cerca de 2 Km do centro da Cidade.
Como já não eram horas decentes, deram-nos de comer alguma coisa no refeitório, indicaram-nos onde iríamos pernoitar e fomos avisados pelo Sargento de Dia de serviço das regras que teríamos de começar a cumprir a partir daquele momento.
No dia seguinte e após as boas vindas, dadas pelo 2º. Comandante da Unidade (…que na altura era o
Tenente Coronel Coelho de Lima – Filho do dono da Empresa de Confecções Nortenha COELIMA…já extinta, creio…), fomos encaminhados para as respectivas Companhias e aí foram-nos oferecidas roupas (novinhas a estrear) para começar-mos a usar, a qual nos iria acompanhar durante todo o período que estivesse-mos ao serviço do Exercito Português.
Tudo comigo ia correndo dentro da normalidade, até porque eu ia instruído no sentido de ser o mais discreto possível, bem comportado, obediente, educado e acima de tudo tinham-me ensinado uma regra que tentei sempre cumprir á risca:
Logo de manhã tínhamos a alvorada, a formatura, o pequeno almoço, a ginástica, a instrução militar.
De tarde havia instrução militar, operação e armamento.
Entretanto, tínhamos intervalados ao longo da semana os serviços (fascinas) diurnos e nocturnos.
Como podem calcular, era uma bela vida …tranquila…divertida, que para muitos dos jovens não passava de um massacre psicológico e uma pré-preparação para o Inferno que os esperava.
Capitulo XV
Aquela afirmação, caiu-me que nem uma bomba dentro de mim.!!!!
Tentei então explicar-lhe, com os devidos “saramalécos” que se usavam na tropa, que tinha a barba muito cerrada mas que tinha feito a barba de manhã, só que fazia-a com máquina de barbear eléctrica, pelo que não se conseguia deste modo, uma barba perfeitamente escanhoada.
A resposta foi crua e simplesmente esta: “ sim…sim…não me apareças cá logo ás 2 da tarde com a barba feita como deve de ser… e vais ver o que te acontece.!!!!”
É evidente… que a minha preocupação mal saí da formatura, foi pedir ao um colega meu da Companhia, uma “gillett” e fazer a barba novamente, desta vez bem escanhoada, pois corria o risco de ficar de fim de semana cortado e vir-me privado de ir a casa a Lisboa.
Após o almoço, lá fui para a formatura da tarde, e qual não foi o meu espanto, quando vejo o Senhor Aspirante Miliciano Vítor Alhinho, vir direito a mim, para verificar se eu tinha feito de novo a barba.
Mirou-me calmamente dos pés á cabeça, dizendo: “…estás a ver…assim já evitas-te ficar de castigo este fim de semana…que te fique de emenda…”.
Fiquei tranquilo e descansado com aquela afirmação, e prossegui a minha vida normalmente durante o resto da semana.
Eis que….é chegado o sábado (11 horas da manhã), dia de recebermos os passaportes de fim de semana, que eram entregues nas respectivas Companhias da Unidade, pelos Sargentos de dia.
O 1º. edificio á direita era a 2ª. companhia
onde fiz a recruta em 1972
Começaram então a chamada: “ 418…ouviu-se de imediato…pronto e entrega do respectivo passaporte com saída da formatura e entrada no autocarro que nos conduziria até Lisboa.!!!. depois 419….pronto, 420…pronto, até que saltaram o 428 e passaram para o 429 e assim sucessivamente até ao 500.
Exemplo do autocarro de Turismo (1972) que nos
transportava até Lisboa
Fiquei calmamente á espera que chamassem o meu numero que era o 428, mas nada.!!!!
Chamei á atenção do Sargento de dia de serviço, na esperança que ele se tivesse esquecido de chamar o meu numero, sendo-me informado então que o meu numero não constava nas emissões dos passaportes da Companhia.
Fiquei… como devem calcular, para morrer de raiva, mas…calmamente pedi para me verem qual era o motivo de não me emitirem o passaporte.
Após ter aguardado calmamente, já com todos os meus colegas dentro dos autocarros e partido para os diversos locais de Norte a Sul do País, foi-me comunicado que me tinham cortado o passaporte de fim de semana, pelo Oficial de Dia o Aspirante Miliciano Vítor Alhinho.
Carlos Alhinho então jogador do S.L. Benfica 1972
Como se isso não bastasse… estava na escala de fascina ao refeitório, no Domingo durante todo o dia.!!!!
Foi aqui… que senti a minha primeira “grande revolta”, não… por não me terem deixado ir de fim de semana, mas sim pela forma cruel como o assunto foi tratado, “…estás a ver…assim já evitas-te ficar de castigo este fim de semana…que te fique de emenda…”.
E ficou….acreditem, dai para cá nunca mais pude ouvir falar do nome “Alhinho”, pese embora continue a ser simpatizante do meu Glorioso S.L.Benfica.
Capitulo XVI
Certo dia, na formatura da manhã, ouviu-se na aparelhagem sonora da Parada, uma informação que alertava para os “mancebos” das diversas Companhias, que se tivessem jeito para desenhar ou pintar, dessem um passo em frente.
Ora como eu tinha sido instruído no sentido de: “na tropa… nunca te ofereças como voluntário… nem para comer…”, fiquei hesitante…confundido, baralhado, sem saber o que fazer…pois tinha de decidir dali a alguns segundos.!!!
Sem saber porquê….nem porque não…dei um passo em frente.!!!!
Pensei então: “seja o que Deus quizer….”
Dei uma espreitadela pelo canto do olho, e reparei, que de todas as Companhias apenas cinco colegas tinham dado um passo em frente, comigo incluído.
A Unidade precisava de construir cerca de 50 placas em alumínio, com 40x30x30 cm, em forma de V invertido, onde seriam desenhadas e pintadas algumas figuras que constavam no livro de ginástica dos instrutores.
Alguns exemplos das figuras que teríamos de pintar e desenhar para os
exercícios de ginástica
Estas eram destinadas a serem colocadas pelos Oficias responsáveis pela Educação Física, nos diversos pontos, onde a “malta” pararia e teria de executar os exercícios mencionados nas respectivas placas, sobre os olhares atentos dos responsáveis.
Para tal, o Capitão iria fornecer papel, lápis e borrachas e todos, bem como algumas figuras constantes do livro da ginástica, com vista a cada um de nós desenhar livremente as imagens respectivas nas folhas que nos foram fornecidas.
Não havia limite de tempo, tínhamos toda a manhã para o fazer.!!!
Bom….achei a ideia “porreira”…pois tinha-me livrado da instrução debaixo de um calor abrasador de uns bons 37º C que era a temperatura média em Beja naquela altura do ano.
Após umas boas 2 horas dei por terminada a minha tarefa, para grande espanto dos meus colegas e do Oficial ali presente.
Já concluiu os desenhos, perguntou-me.???
Após a minha resposta afirmativa, disse-me: “pode entregar-me então e pode aguardar aqui mesmo na sala que os outros colegas seus acabem os respectivos trabalhos…”
Fiquei calmamente, a aguardar que os outros acabassem as provas, sem contudo perguntar a mim mesmo, como é que eu me tinha metido naquela alhada!!!
Quando todos tinham já terminado as suas provas, preenchemos um formulário, com a nossa identificação, Companhia, idade, profissão, etc…etc. tendo-nos sido dadas instruções, para que aguardasse-mos o resultado que seria dado durante a parada, após o almoço.
Lá fomos para a formatura das 14 horas…, tremiam-me as pernas como “varetas” de chapéu de chuva em dia de temporal.
Após algum nervosismo, e após efectuadas todas as chamadas nas respectivas Companhias, para verificar se não se tinha perdido ninguém durante a hora de almoço, ouviu-se finalmente na aparelhagem sonora da Parada, a informação pela qual eu tanto esperava:
“…atenção…atenção…pedem-se aos soldados números XXX Carlos Alberto da 1ª. Companhia, e Soldado 428 Francisco Gonçalves da 2ª. Companhia, que após o destroçar, se dirijam ao Comando desta Unidade, pois foram apurados nas provas de desenho e pintura desta manhã, para execução do trabalho já vosso conhecido…”
As pernas deixaram de tremer…fiquei mais calmo…confiante e lá me dirigi juntamente com o outro meu Colega, até ao edifício do Comando, na espectativa de receber as instruções sobre aquele acontecimento histórico da maior relevância (…onde é que eu já ouvi…isto…oh CT1FBF-João Costa…) na minha Vida Militar.
Aspecto da entrada do RI.3 em Beja Parada Militar do RI.3 em Beja
Fomos recebidos então pelo Oficial de Dia á Unidade e pelo Comandante da mesma, tendo-nos sido comunicado os motivos que levaram os responsáveis, a termos sido escolhidos para efectuar aquele serviço, mas… com grande surpresa nossa, ficámos a saber que a partir daquele dia, não faríamos mais serviços á Unidade, nem instrução.
A partir dali, foram dois meses de descanso e lazer, contrariamente aos nossos colegas que infelizmente tinham de suportar as altas temperaturas e as longas caminhadas ao longo dos dias escaldantes do Alentejo em tempo de Verão.
Valeu a pena…e afinal, aquela indicação que me tinham dado que: “na tropa… nunca te ofereças como voluntário… nem para comer…”, afinal não era verdade.!!!!!
Como consequência deste feito, fiquei classificado em 5º. lugar na recruta.
Como nas minhas indicações preferenciais faziam parte, a minha aptidão pelas telecomunicações,
uma vez que já nessa altura era Radioamador com indicativo de CT1DL, foi-me dado a escolher, se queria ir para o Curso de Radiomontador em Paço de Arcos, ou outro local nos arredores de Lisboa, uma vez que habitava nos Olivais Sul em Lisboa.
Bingo!!!…era mesmo aquilo que eu queria…ir para Paço de Arcos, para o Curso de Rádio.!!!!
Naquela altura, já tinha apanhado a “terrível” doença que ainda hoje... não consegui curar, por mais remédios e antibióticos que tenha tomado, sem contudo ter obtido qualquer resultado prático… era o “Radioamadorismobacilócocus”.... bactéria altamente contagiante, perigosa e demolidora.
Vamos para Paço de Arcos....em frente....marche.!!!!
Capitulo XVII
Fiquei na 1ª. Companhia de Instrução, no local a que na tropa se designava o Hotel de Paço da Arcos.
Isto porque, as condições que tínhamos naquela Escola, eram fora do normal para o Exército daquele tempo, em que Portugal estava abraços com uma Guerra Colonial.
Entrada da Porta de Armas na Época de 1973
Tínhamos uma qualidade de alimentação especial, as refeições eram servidas á mesa em travessas, por funcionários do refeitório, com camisa branca e calça preta, tínhamos salas de estudo pós laboral, entrávamos e saímos á Civil, tínhamos um horário das 9 da manhã ás 17 horas, com almoço das 12 ás 14 horas, enfim….”gente fina, era outra coisa!!!”
Aquilo agradava-me de certo modo, estava perto de casa, quase dentro de Lisboa, tinha ali do outro lado da Marginal a Praia junto ao Forte da Marinha, e até tinha ali bem perto de mim, a casa de um Colega Radioamador (infelizmente já falecido também) que era o CT1AN-Nascimento.
Um dia, ao conversar com um colega da minha Companhia, o mesmo manifestou-me a grande dificuldade que estava a ter em entender a matéria que estávamos a dar, uma vez que tinha tirado um Curso de Rádio e Electrónica, numa daquelas Escolas em que a matéria era dada por correspondência.
Logo não tinha bases muito sólidas sobre a matéria, nomeadamente sobre as classes de amplificação das válvulas, assim como entender os esquemas teóricos que vinham nos manuais, entre outras coisas.
Disponibilizei-me logo a ajudá-lo, dentro da medida do possível, pois como durante a semana não ia todos os dias a casa, poderíamos combinar umas horas depois do jantar e em vez de irmos para o café, juntávamo-nos lá num sitio sossegadinhos e tentaria calmamente explicar-lhe as suas duvidas.
Assim aconteceu….começámos por nos juntar-mos lá no quartel numa sala de convívio, só que no dia seguinte já haviam mais dois Colegas que tinham pedido para se juntarem a nós.
Uma semana depois, tinha mais uns quantos que também estavam misturados no grupo, totalizando já uns 15 alunos.
Aquilo rapidamente passou de boca em boca, até chegar aos ouvidos dum jovem Capitão (Parafuso) Miliciano da Força Aérea, que por acaso nos dava aulas de Transmissões Rádio e Antenas.
No dia seguinte, tivemos aula com esse Capitão que me quis conhecer, tendo-me feito em particular, uma série de perguntas, explicando-lhe então que era Radioamador, daí a minha facilidade em entender toda aquela matéria.
O Capitão disse-me, que ia tentar junto do Comando da Unidade, pedir autorização no sentido de nos ser facultada uma sala, para podermos dar aquelas aulas extras da matéria, destinada aos Colegas que sentissem necessidade e que durante o decorrer daquele dia, eu seria informado se tinha ou não sido autorizado.
Por volta das 17 horas, fui informado pelo próprio Capitão, que a autorização Superior tinha sido concedida e que a partir daquela data não teríamos de andar a juntarmo-nos na sala de convívio.
Comecei então, uma nova etapa da minha Vida Militar….ter aulas de dia… e dar aulas á noite.!!!!
Alguns exemplares das Lições do Curso de Radio montador
da EMEL
Passados alguns dias, tinha já uma plateia de Colegas meus que rondavam os 30 alunos.
Tive ocasião de lhes explicar e faze-los entender a lerem os esquemas teóricos, a desenhar um esquema de blocos, a calcular uma antena dipolo, a entenderem os efeitos da propagação em Onda Curta, VHF e UHF, as teorias sobre os diversos tipos de emissão, AM-FM-BLU (Banda Lateral Única)…etc…etc… e claro falávamos imenso sobre o Radioamadorismo….eu estava como peixe na água.!!!!
Foi para mim muito gratificante, chegar ao fim do Curso e ter verificado que daqueles 30 Colegas meus que inicialmente estavam em apuros, todos eles superaram os medos e as duvidas que tinham, tendo alguns deles obtidos resultados finais, surpreendentes.!!!
Só por isto…achei que valeu a pena ter prescindido de ir a casa durante a semana, de ter ido ver as “xavalecas” ao Jardim de Paço de Arcos ao fim da tarde, ter ido visitar mais vezes o CT1AN, enfim…valeu mesmo a pena….encheu-me o EGO.!!!!
Bom….mas o mais engraçado aconteceu, logo dois dias depois desta aventura.
Todos os alunos da Escola, tinham uma escala de serviço que os nomeavam um dia por semana, a fazerem uma noite de reforço á Caserna ou á Porta de Armas.
Comecei a estranhar, que o meu Numero não aparecia na minha Companhia, escalado para fazer qualquer tipo de serviço, o que me levou a ir á Secretaria perguntar a um Colega que lá estava “impedido” que me explicasse tal facto.
Para grande espanto meu, foi-me comunicado que por acordo entre a Companhia e as pessoas intervenientes, os meus serviços eram feitos pelos Colegas a quem eu estava a dar as aulas suplementares.
Resultado….nunca mais fiz Serviços, durante todo o tempo que estive na EMEL, pois a partir daí, nunca mais me preocupei com tal coisa….os meus Colegas Alunos tratavam do assunto.!!!!
Capitulo XVIII
Este foi o maior susto, que apanhei na minha Vida de Militar, quando ainda estava na EMEL em Paço de Arcos.
Numa manhã radiosa de Verão, estávamos em plena aula de Transmissões Rádio e Antenas, (…que ocasionalmente estava a ser dada, por um 1º.Sargento (gordo lateiro) da Força Aérea, em substituição temporária do jovem Capitão Miliciano da Força Aérea, que tinha ido em diligência ao Norte do País…) quando demos inicio a uma matéria que me era muito familiar e que eu adorava imenso “Princípios de funcionamento do Transmissor de CW e AM - Modelo AN-GRC-9”.
Logo de inicio que me pareceu, que o 1º. Sargento não se sentia muito á vontade a falar desta matéria, uma vez que se limitava a ler o Manual de Instruções, sem nunca se desviar daquilo que o Fabricante referia nas características, descrições e nas funcionalidades do equipamento.
Tudo parecia correr muito bem naquela aula, quando a dada altura da explicação dada pelo Instrutor, foi afirmado por este o seguinte: “ ficamos então a saber… que este equipamento… só pode emitir e receber… em CW (Telegrafia) e AM (Amplitude Modulada) e mais nenhum tipo de modulação….”.
Então… aconteceu aquilo que eu não estava nada á espera que acontecesse, pus a mão no ar e perguntei ao 1º. Sargento: “…mas meu 1º…. , o AN-GRC-9 pode também receber BLU (Banda Lateral Única, do Inglês SSB-Single Side Band) embora não possa emitir, não é.???”.
De imediato, o Instrutor e disse-me: “…claro que não pode receber BLU… o RACAL TR-28 é que tem essa particularidade…”
RACAL TR-28A
Ao que eu respondi: “..olhe que pode…meu 1º…o AN-GRC-9 recebe também BLU em todas as bandas.!!!!”
E aqui…meus Amigos… tinha-se acabado de instalar a confusão na Aula, naquela manhã calma e aprazível de Verão.
O 1º. Sargento olhou para mim indignado e com um ar arreliado e furioso, apontou-me o dedo indicador da mão direita na minha direcção, e disse em vóz alta, completamente alterado dos nervos:
“…Olhe lá…ponha-se em pé!!…já lhe disse que este equipamento não pode receber BLU (SSB), o Manual diz exactamente isso, no entanto você que é teimoso e burro, continua a afirmar que sim. Afinal o que é que você percebe desta porcaria, para estar constantemente a contradizer aquilo que eu lhe estou a explicar a si e aos seus Colegas.???”
Estupidamente, em vez de ficar calado e fazer o papel de Yes Men, respondi: “…mas meu 1º…. eu sei o que estou a dizer, o AN-GRC-9 receber BLU…disso tenho a certeza.!!!”
O 1º. Sargento com ar espavorido e desorientado, olhou para o relógio… gaguejando imenso gritou a bom som, com toda a força dos seus plumões na minha direcção:
“Se logo na Aula da Tarde, não me provas isso que acabas de dizer…. a partir deste momento acabás-te de dar um passo em frente, para seres mobilizado como atirador para a GUINÉ”
Fez-se um silêncio mórbido na aula…todos abandonámos a sala, sem proferir uma única palavra, com todos os meus Colegas a olharem para mim com ar de preocupados, alguns até com uma lágrima ao canto do olho, tal não tinha sido, o terrível ambiente ali vivido, momentos antes.
E eu… perguntam vocês daí.???
Pois bem….como dizia o saudoso António Silva, “estava completamente…dessincronizado”
A cada minuto que passava, só me vinha á ideia aquela afirmação que me tinha tocado no fundo da alma e do Coração:
Fui almoçar apenas para poder tirar a falta do almoço, embora não tivesse tocado no comer, pois tinha perdido o apetite depois daquilo que se tinha passado.
Muitos dos meus Colegas da Turma ( e meus alunos á noite ), deram-me apoio moral, confortavam-me a cada instante, sentia uma onda de solidariedade tremenda, pois eles estavam certos que eu sabia o que estava a afirmar, contudo na Tropa e para um “maçarico” como eu, a coisa podia complicar-se se alguma coisa corresse mal.!!!
Via as horas a passar, os nervos apoderavam-se de mim cada vez mais …estava inquieto…até que lá chegou a hora de ir-mos para a aula da tarde de Princípios de funcionamento do Transmissor de CW e AM - Modelo AN-GRC-9.
AN-GRC-9 com Fonte de alimentação, altifalante e antena de campanha
Quando entrámos na sala, já lá estava colocado em cima de uma mesa, um AN-GRC-9 novo, com o respectivo alimentador e um dipolo de campanha, devidamente ligado a ficha de antena.
Todos tomámos os nossos lugares, olhei para aquele “estandarte” todo e disse muito baixinho para os meus botões..”Oh Gonçalves… se não mostras o que vales, estás F…..…do pá!!!…
Minutos depois chegava o 1º. Sargento com um ar triunfante e mais calmo, vinha acompanhado de um outro Oficial, certamente para assistir ao meu enterro naquela tarde.
O silêncio era mais que muito…ouviam-se apenas as respirações ofegantes dos meus Colegas, pois a minha tinha impressão, ter já parado fazia algum tempo.
Boa tarde a todos…tal como tínhamos falado na aula da manhã, temos aqui um “pequeno” problema para resolver, relativamente ao Aluno Nº. 428 o Sr. Francisco Gonçalves, que então…vai ter de me demonstrar bem como a todos vós, que o Equipamento AN-GRC-9 pode receber…segundo ele afirma…BLU.
Para isso, previamente pedi que fosse montado ali naquela mesa, um desses equipamentos, um alimentador e uma antena.
Meu Caro Sr. Francisco Gonçalves-428, faça favor o rádio é todo seu.!!!!
Modulo do Emissor Receptor AN-GRC-9
O seu ar prepotente e de gozo olhando para o seu colega Oficial, irritava-me solenemente…levantei-me…as pernas e as mãos tremias cada vez mais, o silencio da sala ofuscavam-me as ideias e os movimentos, parecia que tudo estava á espera de ver abater a fera.!!!!
Fui até á mesa onde estava o AN-GRC-9….liguei o alimentador, verifiquei a ligação da antena e pelo canto do olho, via a cara de riso e gozo do 1º. Sargento a olhar para o seu Colega Oficial, como que a dizer:
…”o gaijo está lixado pá, nem sequer consegue ligar aquela tralha toda…quanto mais por aquilo a receber BLU”.
Com as mãos cada vez mais trémulas, localizei o comutador de bandas, coloquei-o na faixa que cobria os 7MHz (40 metros) e sem que antes, pedisse em silencio ao Universo, que me desse força e coragem, para me sair bem daquela embrulhada em que me tinha metido…liguei o ON-OFF do equipamento….Tráu….aguardei uns segundo e começamos a ouvir uma “sopradeira” característica da banda dos 40 metros (nada parecida com aquela que temos nos tempos actuais….estávamos então em 1972, não havia QRM…)…rodei lentamente o dial de sintonia e ….olá…que era aquilo??...parecia-me ter escutado alguma coisas minha conhecida…era um Radioamador ali a transmitir em SSB.!!!
Enquanto procedia a esta operação, mantive-me calado que nem um rato, para grande espanto dos meus Colegas de turma e dos próprios Oficiais ali presentes.
Mais um retoque no dia, virei-me para o 1º. Sargento e seu acompanhante e disse-lhe: “…meu 1º. já sintonizei aqui uma estação, que está a transmitir em BLU, agora é só ligar este botão de CW e pronto….quer ver.???
Mal acabei de ligar o BFO, ajustei-o cuidadosamente e consegui logo á primeira escutar com um sinal fabuloso o CT1PK-Dr.Fragoso de Almeida do Cartaxo, em comunicação com o CT1AP-Professor Martinho em Alcanhões.
Bingo!!!!Yes…Yes…Yes…estava conseguido o objectivo.!!!!
Então…com uma dificuldade tremenda, com as pernas ainda a tremerem que nem varas verdes, virei-me para os dois Oficiais, que estavam de olhos esbugalhados e com caras de espanto, disse-lhes:
“ como vê meu 1º. aqui está o senhor a receber uma emissão em BLU em perfeitas condições, agora vou desligar o BFO para se aperceberem daquilo que se escuta sem o Beat Frequency Oscillator ligado.
De imediato se começou a escutar, o som característico duma emissão em SSB, sem a onda residual de suporte, o que levou o meu Caríssimo 1º. Sargento e o seu acompanhante a ficarem totalmente boquiabertos de espanto, pois eles apenas se regiam por aquilo que o manual militar referia nas características gerais do equipamento.
Mas mesmo assim, ainda quiseram saber em pormenor, como é que eu sabia que aquele equipamento recebia BLU, bem como é que eu tinha descoberto aqueles sujeitos a falar ali naquela frequência.????
Tive então….agora com mais calma, que explicar-lhes que era Radioamador e que tinha uns conhecimentos sobre os diversos tipos de emissão, bem como as suas potencialidades.
Ficaram ambos rendidos.!!!!
Não disseram mais nada…olharam um para o outro indignados e o 1º. Sargento que nos dava aulas disse:
“bom…bom…vamos então deixar este assunto de lado e continuar com a nossa aula…que já perdemos muito tempo com isto do BLU e dos Radioamadores!!!”
Continuamos a aula calmamente, sem nunca mais se ter ouvido falar de BLU.
Fiquei então mais aliviado, quando no final da aula me dirigi ao 1º. Sargento e o questionei: “…desculpe meu 1º….sobre aquela coisa da mobilização para a Guiné, como é que ficamos.????”
Ao que ele respondeu de imediato, com ar de gozo e sorriso na face:
Ah….é verdade…esqueci-me de vos dizer que omiti um pequeno pormenor ao meu querido 1º. Sargento, que foi: “…o de que eu já tinha tido um equipamento daqueles em minha casa, adquirido num ferro velho em Linda-a-Velha e como tal, sabia sobejamente bem trabalhar com ele, assim como as suas potencialidades, as quais me apercebi que ele desconhecia na totalidade…”
A partir dali….comecei a ser visto pelos meus colegas da turma como um Herói, todos me davam os parabéns por tudo ter acabado daquela forma vitoriosa, ainda por cima, por ter sido uma luta desleal entre o David (que era eu) e Golias (que era o 1º.Sargento).
Coisas da Vida…!!!.
Mas não ganhei para o susto, acreditem.!!!
Capitulo XIX
Sim pá….é um Alferes Miliciano “Parafuso” que diz que é Radioamador, é da zona de Viseu salvo erro, tu talvez até conheças o gaijo.!!!!
Fiquei logo curioso….mas continuei a dar a minha aula, até porque estávamos a dar uma matéria muito “gira” que era a propagação nas diversas bandas de onda curta e VHF-UHF.
Contudo, fiquei logo de pé atrás, resolvendo deixar o assunto para o dia seguinte e uns momentos antes do render da guarda que era ás 9 horas, talvez tivesse hipótese de contactar e conhecer aquele meu colega Radioamador.
Assim aconteceu na verdade.
Momentos antes das 9 horas da manhã, já eu estava junto ao edifício do Comando da EMEL, mesmo em frente á Parada, tentando informar-me quem era então o Oficial Radioamador de Viseu que me tinham falado.
Com alguma dificuldade, lá consegui então chegar então junto de um Sr. Alferes Miliciano da Força Aérea, que estava de Oficial de Dia e que iria sair de serviço dali a instantes.
Com uma continência obrigatória…apresentei-me como Militar ao Oficial de Dia, tendo em seguida comunicado ao mesmo, o motivo que me tinha levado ali.
O Oficial de Dia, começou a rir com um ar simpático, que me levou logo a pensar: - “este gaijo deve ser mesmo Radioamador, tem um ar tão porreirão da malta do Norte…carago.!!!!”
Foi então que o Alferes Miliciano se apresentou, informando-me que sim era Radioamador, vivia em Viseu, e era o CT1 Alfa Lima, informando-me que nós já tínhamos comunicado algumas vezes nos 40 metros.
Um outro Oficial ia a passar no local naquele momento, então o CT1AL chamou: - “Oh….Pires (CT1XA), chega aqui, olha este OM também é nosso Colega Radioamador…é o CT1Delta Lima aqui de Lisboa.!!!
E foi assim, que conheci ali mesmo, dois AMIGOS e Colegas Radioamadores que tantas saudades me deixam daqueles tempos.
Com o Pires CT1XA perdi completamente o contacto, com o meu AMIGO Adelino CT1AL, mantemos a nossa PROFUNDA E ETERNA AMIZADE .!!!!!
Capitulo XX
Após ter terminado o Curso de Radiomontador na EMEL em Paço de Arcos, em finais de Outubro, tive o privilégio de me ter sido dado a escolher, qual a Unidade para a qual eu desejava ser colocado, visto ter conseguido obter o 2º. lugar no meu Curso, tendo o 1º.lugar sido obtido por um Colega da Cidade do Funchal e como tal, escolheu a Ilha da Madeira.
Tive á minha escolha, CEU -Centro Emissor Ultramarino, localizado nos Olivais, perto do RALIS em Lisboa, o CRU -Centro Receptor Ultramarino, em Alcochete e o BT -Batalhão de Telegrafistas, em Lisboa.
Optei pelo BT -Batalhão de Telegrafistas, no tradicional e típico Bairro da Graça em Lisboa, bem perto da não menos conhecida, Feira da Ladra.
Entrada do Batalhão de Telegrafistas no Bairro da Graça
em Lisboa
Lembro-me das Unidades de Mafra, Runa (Reformados Miliatres), Lagos, Chaves, Tomar, Coimbra, Leiria, Santarém, Setúbal, Évora, Beja, Porto, Aveiro, Santa Margarida, Caldas da Rainha, Abrantes, Estremoz, Torres Novas, Vila Real, Ovar, entre outras que não me ocorrem de momento.
Estes equipamentos, permitiam interligar via telefone essas Unidades a todas as outras, através de Repetidores instalados em locais estratégicos, geralmente em Serras como Lousã, Fóia, etc….
Aliás….era utilizado o mesmo sistema, que mais tarde os Radioamadores vieram a usar nas comunicações via Repetidores, sistema esse, que ainda hoje funciona.
Estavam na Secção do Cabo Herteziano 6 Colegas meus, oriundos de diversos locais do Pais, logo alguns só iam a casa ao fim de semana.
Era normal nestas circunstâncias, que cada um de nós, tinha de fazer de 15 em 15 dias um serviço de 24 horas na Unidade, contudo os “desarranchados” iam pernoitar a casa, regressando as 8 horas do dia seguinte.
Era este o meu caso.
Nestes entretantos… na tarde do dia 24 Abril de 74, estava eu de serviço na secção do Cabo Herteziano no Batalhão de Telegrafistas…entrou pela porta do Gabinete, o meu Chefe de Serviços e simultaneamente Comandante de Companhia TSF da qual eu fazia parte, o Capitão XPTO, que calmamente me veio perguntar, se tudo estava a funcionar correctamente com os emissores e telefones Militares espalhados pelo País, pois queria tudo operacional.
Apresentei-lhe o relatório das avarias, onde constatou que a única avaria naquele momento, era em Runa perto de Torres Vedras, o tal Quartel dos Reformados Militares.
Ficou satisfeito com a informação e já quando ia a sair, virou-se para trás e perguntou-me: “ Oh….Gonçalves costumas ouvir rádio durante a noite.???”
Respondi-lhe, que muito raramente.!!!!
A sorrir advertiu-me: “então olha…se te lembrares esta noite…ouve a rádio, o Rádio Clube Português, ou a Rádio Renascença, vais ver que vais gostar…não te esqueças…amanhã falamos mais sobre isto…”
Fiquei um pouco admirado com aquela conversa, mas muito sinceramente não dei muita importância ao assunto.
Por volta das 20 horas, como era hábito quando estava de serviço, entreguei as chaves da Secção do Cabo Herteziano, ao meu Colega que iria entrar em funções no dia seguinte e regressei a casa.
Até aqui, tudo parecia normal.
Depois de um Serão em QSO, com alguns colegas Radioamadores já habituais no VHF aqui da zona de Lisboa, retirei-me para descansar umas horitas, pois no outro dia tinha de ir para o Quartel até á hora de almoço.
Por volta das 7 horas da manhã….fui acordado pela minha Mãe, que me dizia num tom de voz muito baixinho e trémulo…” Zé…acorda…olha que estão a dar na Rádio que houve um golpe de Estado…estão a pedir aos Militares para regressarem urgentemente aos Quartéis…na Rádio só estão a dar marchas Militares…dizem que são do Gabinete do Movimento das Forças Armadas …não sei quê.???...deve ter havido uma grande desgraça…acorda lá…anda!!!!!”
Fiquei meio atordoado com a noticia, mas não dei muita importância ao que estava a ouvir, pois ainda estava mais para lá do que para cá.
Passados uns minutos, caí então em mim…e quando a minha Mãe me falou na Rádio, marchas Militares, Golpes de Estado, Gabinete das Forças Armadas….veio-me logo á ideia o que se tinha passado no dia anterior com o Capitão XPTO:
“então olha…se te lembrares esta noite…ouve a rádio, o Rádio Clube Português, ou a Rádio Renascença, vais ver que vais gostar…não te esqueças…amanhã falamos mais sobre isto…”
Levantei-me que nem um tiro….liguei um rádio que estava no meu quarto e de imediato escutei o comunicado do tal Gabinete do Movimento das Forças Armadas, lido aos microfones do Rádio Clube Português….seguiram-se marchas militares.!!!!
Fiquei aterrorizado…senti que alguma coisa de muito grave tinha acontecido, vesti-me á pressa e fui direito á rua, para apanhar um Táxi até ao BT na Graça, isto para evitar mais atrasos, pois o caso parecia-me sério.!!!!
Ao entrar no Táxi, senti que havia uma euforia muito grande no comportamento do Taxista, um senhor de cerca de 50’s e tantos anos, cabelos brancos, com um aspecto desgastado pela dureza do trabalho.
Aí disse-me: “…o Senhor é Militar …então, está de Parabéns…finalmente conseguiram acabar com essa pandilha de Filhos da P…a dos Fascistas do Governo…sabe Amigo, tenho lá fora na Guiné um Filho e outro em Angola…já não os vejo á mais de 3 anos…viva o 25 de Abril.!!!!”
Chegados á Rua Vale de Santo António, em frente do BT-Batalhão de Telegrafistas, preparava-me para pagar a viagem, o taxímetro marcava 7$50, quando o Motorista, com as lágrimas nos olhos me disse: ”…não tem nada a pagar Amigo…esta corrida pago eu… é em memória dos meus dois filhos que estão lá fora no Ultramar, para que cheguem sãos e com saúde…vá em PAZ…”.
Agradeci-lhe, saí do táxi e quando este já estava em movimento, buzinou-me e fez-me um gesto com a mão direita, com os dedos indicador e médio, formando um “V”, gritando bem alto…”Vitória…Viva o MFA…”
Viva o MFA.???
Que raio seria aquilo.???
Mal sabia, que tinha acabado de dar entrada numa nova Era, o 25 de ABRIL.!!!!
Selos Comemorativos do 25 de Abril de 1974
Capitulo XXI
Após ter chegado as imediações do Quartel, apercebi-me então do movimento anormal que existia naquela zona da Cidade, tudo muito calmo, muito pouca gente nas ruas, pouco transito, estabelecimentos fechados, apenas alguns autocarros a funcionar, embora com muito poucos passageiros no interior.
Pensei….isto está mesmo complicado.!!!
Mas o meu maior espanto, ainda estava para vir.
Quando me aproximei da porta de Armas do Quartel, encontrei a porta fechada!!!
Veio-me logo á ideia, aquela celebre frase do nosso querido Raul Solnado: “…
Fiquei em pânico….desloquei-me para uma “tasquinha” que havia mesmo em frente á porta de armas, encontrando lá imensa gente da minha Unidade, entre eles um Colega Radioamador e meu Amigo pessoal o CT1XXX.
Dirigi-me a ele, e verifiquei que ele não estava menos atrapalhado do que eu, pois não sabia o que fazer.
O CT1XXX já era Oficial (Aspirante Miliciano) naquela altura, daí eu ter pensado que talvez, este me pudesse ajudar a entrar sem problemas dentro do Quartel.
Passados alguns momentos, o Sargento da Guarda teve ordem, para abrir os portões do Quartel temporariamente e dar entrada a alguns Militares que entretanto tivessem chegado.
Juntei-me ao Colega, corremos os dois para o outro lado da rua e entrámos calmamente.
Lá dentro, o ambiente era de cortar á faca.
Vim logo a saber, que todas as Unidades Militares a nível Nacional, estavam de prevenção rigorosa.
Só se viam militares com G3’s ao ombro, formaturas nas Companhias, uma grande agitação entre os Oficiais, movimento de viaturas Militares, os Armazéns de Depósitos de material em autentico alvoroço, com entradas e saídas de armamento diverso, etc…etc…etc.
Exterior do Batalhão de Telegrafistas na Graça em Lisboa
Desloquei-me para o meu local de impedimento, no Cabo Herteziano e encontrei lá a “malta” toda da minha secção, que geralmente só via em casos excepcionais, pois tínhamos um pacto com o Comandante de Companhia ( o tal Capitão XPTO, o tal que me tinha mandado ouvir a rádio na noite anterior…) que só ali nos deslocávamos todos, quando houvesse inteira necessidade.
Foi uma festa….todos juntos ao molho…alguns até já tinham casado e tido filhos, vejam só á quanto tempo não nos víamos todos.
Uns eram do Algarve, outros do Porto, Guimarães, Braga, Santarém, Lousa, etc…etc…
Mais ou menos a meio da manhã, eram cerca de 10 e meia, entrou na nossa secção o 2º.Comandante da Unidade ( Tenente Coronel PTXO, acompanhado pelo Capitão XPTO ) que nos veio por ao corrente daquilo que se tinha e se estava a passar a nível Nacional, com as Forças Armadas.
Foi-nos comunicados por estes Oficiais, que a nossa Unidade estava ainda em “Stand By”, relativamente á aderência ou não ao Movimento das Forças Armadas do 25 de Abril, uma vez que o nosso Comandante estava em representação do Exercito Português na Venezuela, devendo chegar á Unidade no final do dia, o que veio a acontecer, tendo este aderido de imediato ao Movimento das Forças Armadas.
Fomos então alertados para o facto, de que não deveríamos deixar entrar ninguém da nossa Unidade, dentro das instalações do Cabo Herteziano, mesmo que fossem Oficiais desde que não acompanhados do 2º.Comandante PTXO ou do Capitão XPTO.
Para salvaguardar qualquer imprevistos, foi-nos dada uma palavra senha, que tinha de ser escrupulosamente difundida, sempre que se pretendesse entrar naquele local.
Aquele local, era o Centro das Comunicações telefónicas Militares, de todas as Unidades Nacionais do Exercito, logo um local bastante propício a sabotagens e ataques de diversa ordem, pois estávamos em plena Revolução Militar.
Ficámos alerta 24 horas, pois poderiam surgir qualquer tentativa de sabotagem ás comunicações.
Naquela época, as comunicações entre as viaturas da GNR (Guarda Nacional Republicana, PIDE (Policia de Intervenção e Defesa do Estado) e as diversas unidades de Lisboa, eram feitas na parte baixa da Banda do FM Comercial, por volta dos 85-88 MHz, o que possibilitava a quem tinha rádios de FM de algumas Marcas Japonesas, poderem ouvir estas comunicações, com a maior comodidade, atendendo a que o espectro radioeléctrico da Banda de FM naquele tempo, não estava tão sobcarregado de estações.
Havia o RCP (Rádio Clube Português) a RR (Rádio Renascença) e não estou certo se já havia em funcionamento a EN (Emissora Nacional ).
Foi assim, que estas Instituições do Estado (GNR-PIDE) sem que se estivessem apercebido durante algum tempo, estiveram sobe controlo, nos seus movimentos e actuações, pelo MFA (Movimento das Forças Armadas).
Simbolo da Arma de Transmissões em Portugal
Capitulo XXII
Estávamos no dia 26 de Abril de 1974, em plena Revolução dos Cravos, havia ainda muita confusão entre os Militares, Forças Militarizadas e Civis, pois o 25 de Abril tinha sido ontem.!!!!
Logo bem cedo, o Capitão XPTO da minha Unidade (BT -Batalhão de Telegrafistas da Graça em Lisboa), deslocou-se ao Cabo Herteziano, bateu á porta, indicou a senha de acesso e entrou.
Após nos ter cumprimentado a todos, chamou-me á parte, virou-se para mim e disse: “ Gonçalves….sei que és Radioamador…e preciso que nos faças um grande favor….que arranjes um “gaijo” destes da tua confiança e que vás á Cova da Moura na Infante Santo, montar um daqueles equipamentos de UHF da Telefunken com 120 canais telefónicos e ligues lá a Central telefónica existente aqui á nossa Unidade….pode ser Pá.???”
A minha resposta foi imediata e afirmativa.
Na Cova da Moura em Lisboa, mesmo nas traseiras do Hospital da CUF, estava naquele tempo a funcionar o Conselho da Revolução e o Gabinete do MFA.
Depois de ter escolhido um elemento da minha equipa, fui ao Depósito de material levantar todo o material necessário e lá me fiz á estrada até á Avenida Infante Santo em Lisboa.
Durante o trajecto e como nos transportávamos numa viatura militar, tivemos ocasião de ser aplaudidos por muitos populares, que andavam pelas ruas em constantes manifestações de apoio ao MFA e ao 25 de Abril.
“…Viva o MFA….Viva o 25 de Abril….Vivam os Militares de Abril….”
Chegados ao local, ficámos admirados com aquilo que estávamos assistir, pois havia uma grande agitação entre as pessoas ali presentes naquele local.
Eram as entradas de viaturas do Exército a alta velocidade, era a saída de civis algemados das viaturas, era o aparato policial e militar no átrio do local onde de nos encontrávamos, em suma, a confusão era mais que muita.!!!
Passados alguns minutos de assistir a tudo aquilo, verifiquei então finalmente que me encontrava no interior “coração” do 25 de Abril, estava no Palácio da Cova da Moura, onde estava sediado o Conselho da Revolução e o Gabinete do MFA ( Movimento das Forças Armadas ).
Na imagem General António Spinola 3º. A contar da direita
Bom…mas tinha de me despachar, pois havia de pôr no ar o feixe herteziano entre este local e o BT-Batalhão de Telegrafistas na Graça e depois regressar á minha Unidade.
Dirigi-me ao Oficial de Dia de serviço, dei-lhe nota daquilo que me tinha levado até ali, tendo-me ele de imediato, (uma vez que já me esperava), indicado o local onde teria de colocar o equipamento a funcionar.
Depois de algum tempo de montagem da antena Diedro no telhado das instalações, localizei a central telefónica do local, transferi todas as linhas até junto do Telefunken UHF Microwave System, testei o feixe de serviço entre a Central do BT e a Cova da Moura, verificando que funcionava perfeitamente, com um sinal de 59+++.
Pedi ao telefonista, que fizesse uma chamada telefónica para qualquer Unidade do Pais para testar a Rede e constatámos que tudo estava operacional.
Tinha terminado a minha tarefa…podia regressar finalmente á minha Unidade.
Olhei para o relógio…eram quase duas da tarde….percebi então porque é que estava a ficar com fome.
Perguntei ao Oficial de Dia, se poderia juntamente com o meu Ajudante comer ali alguma coisa antes de partirmos, ao que me foi informado que não havia ali no local refeitório onde pudéssemos comer, contudo pediu-me que aguardasse uns momentos que ele iria tratar do assunto superiormente.
Assim fiz, enquanto aguardava pela resolução, permaneci junto do equipamento que tinha acabado de montar, verificando se tudo estava correctamente ligado e a funcionar na perfeição.
O sitio onde estava montado o equipamento, era numa grande sala, decorada com móveis estilo Luís VIII, cadeirões enormes forrados a setim vermelho, outros em couro magnificamente preservados no tempo, secretárias em madeira exótica magnificamente brilhantes, quadros pintados a óleo de artistas que me eram desconhecidos, enfim uma coisa deslumbrante e magnifica.
Comecei então a ouvir um ruído estranho, que se aproximava muito lentamente da entrada da sala e que provinha do corredor que dava acesso á mesma.
A porta abriu-se lentamente de par em par, surgiu então um Senhor de meia estatura com um ar meio esquisito, vestia um sobretudo cinzento muito bonito, usava uma porcaria qualquer num olho pendurado por uma corrente que me fazia lembrar o Eça de Queiroz e tinha debaixo do braço um “bengalim” de cabedal preto, que começou a agitar na minha direcção dizendo:
“ …boa tarde rapaz…então tu és do Quartel da Graça, do BT do Tenente Coronel Vargas.???
Já sei que vieram montar aí um sistema para podermos falar pelos telefones Militares sem sermos escutados pela PIDE e GNR e que está tudo a funcionar, pois acabei agora mesmo de testar o sistema para a Região Militar do Norte.
Disseram-me que tu e o teu ajudante ainda não almoçaram, …toma lá o meu Cartão de Crédito, diz que vens da parte do General Spínola…vão almoçar ali em frente ao Restaurante do Hotel…comam e bebam o que quiserem, se houver problemas, mandem-me chamar aqui á Unidade !!!….”
Fiquei em sentido…com um nó na garganta, quase durante dois minutos sem poder falar.
General Spínola.???? Pronto…já estou lixado….olhem onde é que eu me vim meter, meu DEUS.???
General António Spinola
Com as mãos a tremer, aceitei o cartão azul escuro que ele me estava a dar, sem saber o que aquilo era.
Tinha umas letras quaisquer assim meio esquisitas gravadas em relevo, e dizia em letras grandes BANCO NACIONAL ULTRAMARINO.
Exemplo de Cartões Multibanco da Época de 1970 com
informações em relevo
O tal Senhor General Spínola, vendo a minha atrapalhação e o meu embaraço, colocou-me a mão calmamente em cima do ombro e disse: “…não sabes para que isso serve, não é.????
Lá nos dirigimos para o Restaurante do Hotel (salvo erro.!!!) o Infante Santo, mesmo em frente á porta de armas daquela unidade Militar.
Hotel Infante Santo época de 1972
(Nesta época ainda existiam Policias Sinaleiros em Lisboa)
Durante o almoço, (…que ainda me recordo perfeitamente…), foi-nos servido um belíssimo naco de bife de vaca na pedra, acompanhado de batatas fritas, arroz, salada de alface e cenoura ralada.
Como bebidas, presentearam-nos com um belíssimo vinho tinto Vidigueira, uma sobremesa de fruta Tropical variada e para rematar, um óptimo café Brasileiro com um aroma e um sabor espectaculares.
Durante o almoço, várias foram as vezes, que ouvimos na sala do Restaurante do Hotel, os murmúrios de VIVAS ao MFA, ao 25 de Abril e os gestos de VITÓRIA “V” feito com os dedos indicador e médio de ambas as mãos.
Após o repasto, pedimos a conta….e disse em voz baixa ao meu colega Cevadinha: “….agora é que vão ser elas…vamos ainda os dois presos, queres ver..???”.
Mas não….tudo correu normalmente, veio a conta, entregámos o cartão de Crédito ao empregado de mesa, este passou-o numa maquineta meio esquisita que imprimiu um talão e pronto, deu-nos uma cópia do talão, que depois entregámos ao tal Senhor General Spínola e pronto, não tivemos mais problemas.
Só por casualidade, quero deixar-vos esta informação: o valor total deste almoço para duas pessoas no Hotel Infante Santo, foi de 97$50, estávamos em Abril de 1974 (..ou seja 0.49€ em 2017).
Regressámos á Cova da Moura, para entregar pessoalmente o Cartão de Crédito e agradecer ao Senhor General Spínola, o almoço magnífico que fez o favor de nos presentear.
Após este episódio, regressámos finalmente á Unidade do Largo da Graça em Lisboa, felizes e de barriga….bem cheia.
Só mais tarde, vim a tomar consciência daquela aventura e da Pessoa com quem estive envolvido durante algumas horas, nunca me tendo passado pela cabeça, que foi com este episódio que tomei contacto com um grandes Militares de Abril, mais tarde Presidente da Republica Portuguesa, já falecido faz alguns anos.
Presidente da República de 15 de Maio até 30 Setembro de 1974,
altura em que renuncia o cargo e é substituído pelo General Costa Gomes.
Capitulo XXIII
Estávamos no Mês de Agosto de 1974, manhã quente de Verão e um dia normal de actividade Militar no Batalhão de Telegrafistas da Graça em Lisboa até aquele momento, visto que momentos depois, seria um dia memorável, para a minha passagem por aquela Unidade Militar.
Eram exactamente 12 horas em ponto, ouviu-se tocar nas instalações sonoras da Parada Militar da Unidade, a marcha já tão nossa conhecida, que indicava que era tempo de almoço.
O som chegou-me aos ouvidos, e após encerrar a secção do “Cabo Herteziano” juntamente com mais dois colegas, deslocámo-nos até ao Refeitório dos Sargentos, onde nos iria ser servida a refeição.
Até aqui tudo corria na normalidade, até que…estávamos já em pleno actividade gastronómica, ouviu-se um grande “burburinho” que vinha o Refeitórios das “Praças” (soldados), mesmo em frente ao Refeitório onde me encontrava.
Ficámos logo em alerta, uma vez que o 25 de Abril tinha sido à muito pouco tempo e, nessa época era normal acontecerem alguns distúrbios, devido á instabilidade militar que por vezes se viviam dentro das próprias Unidades.
Consta que o Coronel Vargas quis fazer uma visita sem aviso prévio ao Refeitório dos Praças da Unidade, para poder avaliar o que estavam a comer e a quantidade que lhes estava a ser servida.
Aspecto de Refeitório
Militar da Época
O 1º. Sargento Carlos (nome fictício) ficou completamente dessincronizado perante tal situação, indo buscar as listas das quantidades de alimentos que cada prato teria de conter, processo que demorou alguns minutos.
Então o Coronel Vargas, ali mesmo á frente de todos os Soldados que estavam no Refeitório dirigiu-se ao 1º. Sargento Carlos dizendo em tom ameaçador e com os Decibéis no máximo do seu Amplificador vocal “…ouve lá Pá…..tu tens de uma vez por todas, que aprender comigo, meu grande vigarista.!!!!! Rouba… mas rouba devagarinho…não queiras roubar tudo de uma vez…”
E agora para compensar os Praças por terem de estar este tempo todo á espera de comer, vais mandar recolher todos os pratos e vais servir a todos batatas fritas com bife de vaca e ovo a cavalo…e olha lá Rapaz….lembra-te que o Pessoal tem de ir entrar ao serviço ás 14 horas, percebes-te.????
Como devem de imaginar, foi dia de festa, foi um espectáculo diferente para aquela “malta” que estava no refeitório a almoçar naquele dia, muitos deles já com as malas feitas e guias de marcha na bagagem para viajarem até á Guiné, outros para Angola ou Moçambique.
Muitos deles certamente que não se importariam de continuar a ter aquela pobre feijoada como alimentação, em vez de terem de ser mobilizados durante pelo menos 24 meses para o Ultramar (então) Português, mas a crueldade da Vida era assim naquele tempo.!!!!!
- O Coronel Vargas era natural do Algarve, oriundo de uma Família modesta e pobre de origem Rural, ingressou no Exército Português para o cumprimento do Serviço Militar obrigatório, onde ali aprendeu a ler e a escrever, tendo então seguido a carreira Militar no Exército, até chegar á patente de Tenente Coronel.
Foi um grande entusiasta na criação e tratamento de pombos correios, tendo então criado nas instalações do Quartel da Graça em Lisboa, (local onde morava Oficialmente com a sua Família), um pombal com centenas de pombos correios.